terça-feira, 27 de maio de 2014

Fernando Pessoa - Poema e Análise




Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho
Nunca me vi nem achei
De tanto ser, só tenho alma
Quem tem alma não tem calma
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diversão, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lento
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti
Releio e digo "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu