quarta-feira, 2 de abril de 2014

A Educação na obra "Os Maias"

Os Tipos de educação presentes são:

-Educação "à portuguesa":

  • Este tipo de educação, era representado por Pedro da Maia e Eusebiozinho, é uma educação virada para a igreja, em que os personagens que a representam são obrigados a saber falar e escrever Latim, porque dizia-se que aumentara a cultura da pessoa que a soube-se. Ambos os personagens eram fracos fisicamente e também psicologicamente, pois tinham sido criados num ambiente muito tradicionalista e conservador. Esta educação desvaloriza também o espírito critico e o contacto com a natureza. Era apoiada por : Vilaça, Padre Custódio, gente da casa dos Maias e gente de Resende.
-Educação "à Inglesa":

  • A personagem que representa este tipo de educação é o Carlos. Esta educação desenvolve a inteligência apoiando o conhecimento experimental, despreza o catecismo (religião). É mais virada para a vida ao ar livre, proporcionando um contacto directo com a natureza e para a ginástica. Ao contra do Educação "à portuguesa", esta valoriza imenso liga as línguas vivas tal como, por exemplo, o Inglês. Fortalecia o corpo e o espírito seguindo a ideia de "corpo são em mente sã". Esta educação era apoiada apenas pelo Afonso e pelo narrador.



Cesário Verde - Análise


Estrutura Externa:

 

Tipo de Composição: 17 quadras, onde os três primeiros versos são alexandrinos (12 sílabas métricas) e o quarto é um hexassílabo ( 6 sílabas métricas).

 

 

Eu/ ho/ je es /tou /cru/el, /fre/né/ti/co, e/xi/gen/te;  - 12

Nem/ pos/so /to/le/rar/ os/ li/vros/ mais/ bi/zar/ros.  - 12

In/crí/vel!/ Já /fu/mei/ três/ ma/ços/ de/ ci/gar/ros - 12

 Com/se/cu/ti/va/men/te. – 6 

 

Rima: Emparelhado nos 2º e 3º versos; Interpolada nos 1º e 4º versos; Esquema ABBA.

Divisão em partes:

Primeira Parte: estrofes 1 e 2

Segunda Parte: estrofes 3 e 4

Terceira Parte: estrofes 5 a 12

Quarta Parta: estrofes 13 e 14

Quinta Parte: estrofes 15 e 16

Sexta Parte: estrofe17

 

 

Estrutura Interna:

Primeira Estrofe: estrofe 1 e 2

Personagem Predominante: sujeito poético
Dá-nos a conhecer o mal estar do sujeito.


Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Dói-me a cabeça . Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos

Segunda Parte: estrofe 3 e 4


Personagem Predominante: engomadeira
Retrata a situação da engomadeira tuberculosa.



Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes ;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida!
O doutor deixou-a . Mortifica.
Lidando sempre ! E deve conta à botica!
Mal ganha para sopas...
Terceira Parte: estrofes 5 a 12

Personagem Predominante: sujeito poético
Relação tempestuosa entre a imprensa e o sujeito.


O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias ,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.


Que mau humor ! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta
.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na.
Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.

Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente!
Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.


Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte?
Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua “coterie”;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.

A adulação repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...
Quarta Parte: estrofes 13 e 14

Personagem Predominante: engomadeira
Descreve-nos o drama da engomadeira abandonada.


E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas ,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!
Quinta Parte: estrofes 15 e 16

Personagem Predominante: sujeito poético
Assistimos  uma conformação irónica do sujeito.


Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a “réclame”, a intriga, o anúncio, a “blague”,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras…
Sexta Parte: estrofe 17

Personagem Predominante: sujeito poético e engomadeira
Estabelece um paralelismo entre a realidade de ambas as personagens.


E estou melhor; passou-me a cólera.E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!

Cesário Verde - Poema

"Contrariedades"
 

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve a conta na botica!
Mal ganha para sopas...

O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopéia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais duma redação, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A imprensa
Vale um desdém solene.

Com raras exceções merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e em paz pela calçada abaixo,
Soluça um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingênuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convêm, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua coterie;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.

A adulação repugna aos sentimentos finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exatos,
Os meus alexandrinos...

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe umedece as casas,
E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a réclame, a intriga, o anúncio, a blague,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
 
 
 
Tema: Humilhação de que o sujeito e a engomadeira são vítimas.
Temática Realista: Humilhação e imagem feminina
Assunto: Crítica a uma sociedade desumana, corrupta, injusta que é alheia ao que acontece em seu redor: os doentes são abandonados e esquecidos tal como os poetas (inda que noutra dimensão).
 
 
 


Parnasionismo

O que é?

A Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França, na metade do século XIX e se desenvolveu na literatura europeia, chegando ao Brasil. Esta escola literária foi uma oposição ao romantismo, pois representou a valorização da ciência e do positivismo.
O nome parnasianismo surgiu na França e deriva do termo "Parnaso", que na mitologia grega era o monte do deus Apólo e das musas da poesia. Na França, os poetas parnasianos que mais se destacaram foram: Théophile Gautier, Leconte de Lisle, Théodore de Banville e José Maria de Heredia.
 
Carateristicas:
- Objetividade no tratamento dos temas abordados. O escritor  parnasiano trata os temas baseando na realidade, deixando de lado o subjetivismo e a emoção;
- Impessoalidade: a visão do escritor não interfere na abordagem dos fatos;
- Valorização da estética e busca da perfeição. A poesia é valorizada por sua beleza em sí e, portanto, deve ser perfeita do ponto de vista estético;
- O poeta evita a utilização de palavras da mesma classe gramatical em suas poesias, buscando tornar as rimas esteticamente ricas;
- Uso de linguagem rebuscada e vocabulário culto;
- Temas da mitologia grega e da cultura clássica são muito frequentes nas poesias parnasianas;
- Preferência pelos sonetos;
- Valorização da metrificação: o mesmo número de sílabas poéticas é usado em cada verso;
- Uso e valorização da descrição das cenas e objetos.


Cesário Verde - Biografia e Bibliografia

 Vida breve teve Cesário Verde. Nasceu em Lisboa em 25 de Fevereiro de 1855, morreu em Lisboa a 19 de Julho de 1886. Tinha 31 anos, idade absurda para morrer com uma tuberculose, dia 19 de Julho de 1886.
   Considerado um grandioso poeta português, matriculou-se no curso de Letras da Universidade de Lisboa, mas acabou por desistis, optando por trabalhar para a loja de ferragens que seu pai tinha na Rua dos Bacalhoeiros.       
   No entanto, deixou-se levar pela sua paixão à poesia e continuou a escrever poemas, tais como: "Num Bairro Moderno" (1877), "Em Petiz" (1878), "O Sentimento dum Ocidental" (1880), publicado no Diário de Notícias, no Diário da Tarde, no Ocidente, entre outros. A sua obra incide sobre a dicotomia campo / cidade, pois faz várias alusões às condições de vida do povo, dos burgueses, dos "bons trabalhadores. Remete-nos ainda para a vida no campo, a beleza da natureza e a beleza da mulher que é bastante realçada ao logo da sua obra. Cesário Verde divide as mulher em três géneros: a Mulher-Cidade como produto de convenções citadinas, a Mulher-Cidade como uma vítima social, e ainda a Mulher-Campo associada a uma figura frágil, natural, autêntica, mulher anjo e dócil. Cesário Verde para além de naturalista é simultaneamente parnasiano, pois apresenta uma tendência artística que procura a confecção perfeita através da poesia descritiva, Preocupa-se com a perfeição, o rigor formal, a regularidade métrica, estrófica e rimática. Retorna ao racionalismo e às formas poética clássicas. 
  Adoecendo gravemente, fixa-se na quinta da família em Linda-a-Pastora. Foi graças aos esforços do seu amigo Silva Pinto que as suas poesias são postumamente publicadas em volume com o título "O Livro de Cesário Verde" (1887).
 

Bibliografia:
 
Poemas representativos de Cesário Verde:
 
  • "Num Bairro Moderno"
  • "Sentimento dum Ocidental"
  • "De Tarde"
  • "Contrariedades"
  • "Deslumbramentos"
  • "Nós"

terça-feira, 1 de abril de 2014

Linguagem e Estilo Queirosiano

A prosa de Eça de Queirós reflecte a sua forma de pensar e exprime facilmente o seu modo de ver o mundo e a vida. Este soube explorar, a partir de um vocabulário simples, a força evocativa das palavras com o uso de sentidos conotativos e relações combinatórias. Através de processos como: o ritmo da narração, a descrição, o diálogo, monólogos interiores e comentários, Eça de Queirós conseguiu imprimir nas suas palavras um verdadeiro encanto.

O Impressionismo Literário

Eça de Queirós revela um estilo literário dualista, por um lado descreve de forma fiel a realidade observável e por outro, a fantasia e a imaginação do escritor realçam essa mesma descrição. Deste modo, deixa transparecer as impressões que lhe ficam da realidade que descreve já que considera que não bastava descrever pormenorizadamente aquilo que se observava, mas que também era necessário manifestar o sentimento que resulta dessa mesma observação. Assim, Eça de Queirós além de descrever pormenorizadamente, soube revelar a sua visão crítica sobre a sociedade dos finais do século XIX.

As Personagens

Nas suas obras, Eça de Queirós pretende criticar a sociedade portuguesa da época. Para o fazer, utilizou personagens tipo – personagens que não são individuais mas que dizem respeito uma personagem geral que retrata, por exemplo, uma classe social ou uma certa instituição. Com este tipo de personagens, o escritor conseguiu retratar nas suas obras a sociedade em que vivia.Eça de Queirós julgava a sociedade portuguesa uma sociedade em decadência, por isso era posta no banco dos réus por parte do autor.
As críticas que Eça de Queiroz faz da sociedade são bastante subjectivas, pois é sempre a visão pessoal do escritor presente nas obras.

O Adjectivo e o Advérbio

De modo a tornar a sua escrita mais expressiva, Eça de Queirós apoia-se nos adjectivos e advérbios de modo que transmitem ao leitor uma sensação de visualização. O adjectivo é usado com uma sabedoria e criatividade que faz dele a categoria gramatical por excelência na obra queirosiana. Assim, consegue demonstrar a sua visão crítica sobre a sociedade do século XIX de uma forma subtil mas que terá um grande ênfase, fazendo com que a sua sátira nos pareça objectiva.
No estilo Queirosiano, o adjectivo é usado de forma extremamente subjectiva e não pretende estabelecer qualquer relação directa com o substantivo que qualifica, mas sim dar a entender a relação entre esse nome e os outros, despertando a imaginação. Deste modo, o adjectivo surge com um carácter impressionista da prosa de Eça de Queiroz, já que é utilizado para mostrar ao leitor os sentimentos produzidos no escritor.
Outra característica literária presente nas obras de Eça de Queirós é o uso de adjectivação dupla e tripla, com vista a mostrar não só a descrição mas, novamente, complementando-a com as impressões que surgem da mesma.
Quanto aos advérbios de modo, devido à sua sonoridade, foram trabalhados cuidadosamente pelo escritor, de forma a incidirem sobre o sujeito, mantendo as funções do adjectivo, mais uma vez, para que a criatividade e imaginação do leitor surja de forma espontânea.

Os Verbos

Tal como acontece com o uso dos adjectivos e dos advérbios, também os verbos são utilizados com um carácter impressionista por parte do autor. Do mesmo modo, suscitam a imaginação do leitor. Para escapar à monotonia imposta pelo uso de verbos semelhantes, Eça  de Queirós optou por substituir os verbos comuns por outros menos vulgares, mas que expressam mais amplamente a acção descritiva pretendida pelo autor.
Os verbos declarativos (disse, afirmou, observou, explicou, respondeu, prosseguiu, …) são comuns para introduzir falas de personagens e por isso tornam o discurso monótono, pelo que, o escritor opta por suprimi-los. Assim, a não utilização deste tipo de verbos, confere ao texto uma quebra na monotonia e dá-lhe ritmo e vivacidade.
É usual o uso do pretérito imperfeito em obras realistas, pois este tempo torna as acções presentes as acções realizadas no passado. Quando é utilizado o pretérito perfeito é narrada uma acção passada que está concluída e encerrada no passado. No uso do imperfeito, pela transposição dos eventos narrados até ao tempo presente, faz com que o leitor testemunhe o acontecimento narrado.

A Frase e a Linguagem

Uma das preocupações de Eça de Queirós foi evitar as frases demasiado expositivas, fastidiosas e pouco esclarecedoras dos românticos. Para tal, faz uso da ordem directa da frase, para que a realidade possa ser apresentada sem alterações, e empregou frases curtas para que os factos e as emoções apresentadas fossem transmitidas objectivamente.
A pontuação, na prosa queirosiana, não pretende servir a lógica gramatical. Eça de Queirós põe a pontuação ao serviço do ritmo da frase para, por exemplo, marcar pausas respiratórias, para revelar hesitações ou destacar elevações de vozes.
Para evitar a utilização constante dos verbos declarativos, Eça de Queirós criou o estilo indirecto livre.
 O processo consiste em utilizar no discurso indirecto a linguagem que a personagem usaria no discurso directo, ou seja no diálogo. Deste modo, o texto ganha vivacidade e evita a repetitiva utilização de disse que, perguntou se, afirmou que, ..., criando a impressão de se ouvir falar a personagem.
Eça de Queirós utiliza uma linguagem representativa não só da personalidade da personagem mas também de acordo com a sua condição social.
Como observador da sua sociedade, Eça de Queirós teve de recriar nas suas obras as diferentes linguagens das diferentes classes sociais da sua época. Por isso, as suas obras tornam-se riquíssimos espólios e testemunhos da vida dos finais do século XIX.

Recursos Estilísticos

A prosa Queirosiana é enriquecida com vários recursos estilísticos. Aquelas que se podem destacar por melhor representam o estilo de Eça de Queirós são:
- a hipálage – figura de estilo que consiste em atribuir uma qualidade de um nome a outro que lhe está relacionado, revelando assim a impressão do escritor face ao que descreve.
- a sinestesia – figura de estilo relacionada com o apelo aos sentidos que nos transporta para um conjunto de sensações por nos descrever determinado ambiente (cenário envolvente) com realismo, tornando-nos de certa forma testemunhas desse cenário.
- a adjectivação – uso de adjectivos, muitas vezes utilizada a dupla e tripla adjectivação.
- a ironia – recurso estilístico que, por expressar o contrário da realidade, serve para satirizar e expor contrastes e paradoxos.
- a aliteração – figura de estilo que utiliza a repetição de sons para exprimir sensações ou sons da realidade envolvente.

"Os Maias" - O Narrador

O narrador é heterodiegético, ou seja, não é uma personagem da história.
Assume, geralmente, uma atitude de observador.
Marcas linguísticas: verbos na 3ª pessoa; pronomes e determinantes na 3ª pessoa; discurso indirecto livre (nesta obra).

O narrador omnisciente sabe tudo sobre as personagens: o seu passado, presente e futuro, bem como os seus sentimentos e desejos mais íntimos. É como um deus que tudo viu e tudo sabe. Verificamos que o narrador do romance conhece todo o passado dos Maias, sabendo mais sobre eles do que as próprias personagens. Isto permite-lhe arquitectar o romance, jogando com várias técnicas narrativas ao nível do tempo do discurso (por exemplo, a analepse).

Um exemplo concreto do conhecimento do narrador relativamente à interioridade das personagens é o momento em que mostra conhecer os sentimentos que Afonso não expressa quando o filho, Pedro, surge perante ele, desesperado com a fuga da Monforte. (Final do cap. II – p. 44 – “Uma sombria tarde de Dezembro…”)

O ponto de vista, ou perspectiva narrativa, corresponde à adopção, por parte do narrador, de uma determinada posição para contar a história.
Perspectivar a diegese de acordo com uma determinada focalização não é só ver a diegese por certos olhos; é tomar em relação a ela uma posição afectiva e/ou ideológica. Constituir-se-á assim uma imagem particular da história, configurada pela subjectividade da personagem que a perspectiva.

N’Os Maias é fundamentalmente sobre Carlos que recai a focalização interna: as outras personagens dependem da sua visão do mundo e é a sua subjectividade que atua como elemento filtrante da realidade observada.

A focalização interna valoriza o universo psicológico de Carlos e proporciona uma visão crítica da sociedade.

O ponto de vista de Carlos é sobretudo evidente nas passagens em que a obra nos dá a conhecer Maria Eduarda (o primeiro avistamento, o primeiro encontro,…). Aliás, parece ser na caracterização desta personagem feminina que o narrador mais abdica da sua omnisciência. Mas também existem outros exemplos da focalização interna de Carlos, como o jantar do Hotel Central ou o Passeio Final, em que a visão crítica da decadência do país é filtrada pelo olhar do protagonista.

Ao privilegiar a focalização interna, o narrador vê, sente e julga os eventos ficcionais com e como a personagem, o que, por outras palavras, significa que as leis da subjectividade da personagem condicionam a imagem da diegese que é veiculada.

A focalização interna adopta por vezes a perspectiva de João da Ega. Um exemplo relevante deste ponto de vista são os episódios do jornal “A Tarde” e do Sarau no Teatro da Trindade.
Outro exemplo digno de nota em termos de focalização interna, é o ponto de vista de Vilaça (pai), através do qual se apresenta a educação de Carlos em Santa Olávia.

O narrador pode também optar pela focalização externa, ou seja, a simples referência aos aspectos exteriores da história contada: por exemplo, o aspecto físico das personagens, a sua vestimenta, ou os espaços físicos onde se movimentam.
Esta atitude narrativa é especialmente empenhada na superficialidade e transmite, com objectividade, apenas aquilo que é observável.

No entanto, n’Os Maias, a objectividade é, muitas vezes, apenas aparente. Assim, existem vários exemplos de utilização de adjectivos, de advérbios e de diminutivos que conferem subjectividade aos eventos narrados.

Os exemplos que mais se destacam correspondem à descrição de Eusebiozinho ou à de Dâmaso. Encontramos aqui a focalização interventiva, com a função de comentário, aliada à adesão ou negação a/de comportamentos ou formas de estar das personagens. Pode ter uma função ideológica, por exemplo na apresentação da personagem Alencar, já velho, no jantar do Hotel Central.

"Os Maias" - Tempo


    Tempo:
Este romance não apresenta um seguimento temporal linear, mas, pelo contrário, uma estrutura complexa na qual se integram vários "tipos" de tempos: tempo histórico, tempo do discurso e tempo psicológico.   

Tempo Histórico

Entende-se por tempo histórico aquele que se desdobra em dias, meses e anos vividos pelas personagens, reflectindo até acontecimentos cronológicos históricos do país.
N' Os Maias, o tempo histórico é dominado pelo encadeamento de três gerações de uma família, cujo último membro - Carlos, se destaca relativamente aos outros. A fronteira cronológica situa-se entre 1820 e 1887, aproximadamente. Assim, o tempo concreto da intriga compreende cerca de 70 anos.

Tempo do Discurso

Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, ordenado ou alterado logicamente, alargado ou resumido.
Na obra, o discurso inicia-se no Outono de 1875, data em que Carlos, concluída a sua viagem de um ano pela Europa, após a formatura, veio com o avô instalar-se definitivamente em Lisboa. Pelo processo de analepse, o narrador vai, até parte do capítulo IV, referir-se aos antepassados do protagonista (juventude e exílio de Afonso da Maia, educação, casamento e suicídio de Pedro da Maia, e à educação de Carlos da Maia e sua formatura em Coimbra) para recuperar o presente da história que havia referido nas primeiras linhas do livro. Esta primeira parte pode considerar-se uma novela introdutória que dura quase 60 anos. Esta analepse ocupa apenas 90 páginas, apresentadas por meio de resumos e elipses. Assim, como vemos, o tempo histórico é muito mais longo do que o tempo do discurso. Do Outono de 1875 a Janeiro de 1877 - data em que Carlos abandona o Ramalhete - existe uma tentativa para que o tempo histórico (pouco mais de um ano da vida de Carlos) seja idêntico ao tempo do discurso - cerca de 600 páginas - para tal Eça serve-se muitas vezes da cena dialogada. O último capítulo é uma elipse (salto no tempo) onde, passados 10 anos, Ega se encontra com Carlos em Lisboa.

Tempo Psicológico

O tempo psicológico é o tempo que a personagem assume interiormente; é o tempo filtrado pelas suas vivências subjectivas, muitas vezes carregado de densidade dramática. É o tempo que se alarga ou se encurta conforme o estado de espírito em que se encontra.
No romance, embora não muito frequente, é possível evidenciar alguns momentos de tempo psicológico nalgumas personagens: Pedro da Maia, na noite em que se deu o desaparecimento de Maria Monforte e o comunica a seu pai; Carlos, quando recorda o primeiro beijo que lhe deu a Condessa de Gouvarinho, ou, na companhia de João da Ega, contempla, já no final de livro, após a sua chegada de Paris, o velho Ramalhete abandonado e ambos recordam o passado com nostalgia. Uma visão pessimista do Mundo e das coisas. É o caso de "agora o seu dia estava findo: mas, passadas as longas horas, terminada a longa noite, ele penetrava outra vez naquela sala de repes vermelhos...".

O tempo psicológico introduz a subjectividade, o que põe em causa as leis do naturalismo.

"Os Maias" - Espaço

Espaço Físico

Exteriores

A maior parte da narrativa passasse em Portugal, mais concretamente em Lisboa e arredores. Em Santa Olávia passasse a infância de Carlos. É também para lá que este foge quando descobre a sua relação incestuosa com a irmã. Em Coimbra passam-se os estudos de Carlos e as suas primeiras aventuras amorosas.  
                                                    
É em Lisboa que se dão os acontecimentos que levam Afonso da Maia ao exílio; é em Lisboa que sucedem os acontecimentos essenciais da vida de Pedro da Maia; e é também lá que decorre a vida de Carlos que justifica o romance - a sua relação incestuosa com a irmã.O estrangeiro surge-nos como um recurso para resolver problemas. Afonso exila-se em Inglaterra para fugir à intolerância Miguelista; Pedro e Maria vivem em Itália e em Paris devido à recusa deste casamento pelo pai de Pedro. Maria Eduarda segue para Paris quando descobre a sua relação incestuosa com Carlos. O próprio resolve a sua vida falhada com a fixação definitiva em Paris.Deve referir-se como importante espaço exterior Sintra, palco de vários encontros, quer relativos à crónica de costumes, quer à relação amorosa dos protagonistas.

Interiores

Vários são os espaços interiores referidos n' Os Maias, portanto, destacamos os mais importantes. No Ramalhete podemos encontrar: o salão de convívio e de lazer, o escritório de Afonso, que tem o aspecto de uma "severa câmara de prelado", o quarto de Carlos, "como um ar de quarto de bailarina", e os jardins A acção desenrola-se também na vila Balzac, que reflecte a sensualidade de João da Ega. É referido também na obra, o luxuoso consultório de Carlos que revela o seu diletantismo e a predisposição para a sensualidade.A Toca é também um espaço interior carregado de simbolismo, que revela amores ilícitos. São ainda referidos outros espaços interiores de menor importância como o apartamento de Maria Eduarda, o Teatro da Trindade, a casa dos Condes de Gouvarinho, o Grémio, o Hotel Central os hotéis de Sintra, a redacção d' A Tarde e d' A Corneta do Diabo, etc.


Espaço Social

O espaço social comporta os ambientes (jantares, chás, soirés, bailes, espectáculos), onde actuam as personagens que o narrador julgou melhor representarem a sociedade por ele criticada - as classes dirigentes, a alta aristocracia e a burguesia. Destacamos o jantar do Hotel Central, os jantares em casa dos Gouvarinho, Santa Olávia, a Toca, as corridas do Hipódromo, as reuniões na redacção d' A Tarde, o Sarau Literário no Teatro da Trindade - ambientes fechados de preferência, por razões de elitismo.  O espaço social cumpre um papel puramente crítico.

Espaço Psicológico

O espaço psicológico é constituído pela consciência das personagens e manifesta-se em momentos de maior densidade dramática. É sobretudo Carlos, que desvenda os labirintos da sua consciência. Ocupando também Ega, um lugar de relevo.            Destacamos, como espaço psicológico, o sonho de Carlos no qual evoca a figura de Maria Eduarda; nova evocação dela em Sintra; reflexões de Carlos sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda; visão do Ramalhete e do avô, após o incesto; contemplação de Afonso morto, no jardim. Quanto a Ega, reflexões e inquietações após a descoberta da identidade de Maria Eduarda. O espaço psicológico permite definir estas personagens como personagens modeladas.

"Os Maias" - Ação

N' Os Maias podemos distinguir dois níveis de ação: - a crónica de costumes - ação aberta; - a intriga - ação fechada, que se divide em intriga principal e intriga secundária. São, aliás, estes dois níveis de ação, que justificam a existência de título e subtítulo nesta obra. O título - Os Maias - corresponde à intriga, enquanto o subtítulo - Episódios da Vida Romântica - corresponde à crónica de costumes.

Na intriga secundária temos: A história de Afonso da Maia - época de reação do Liberalismo ao Absolutismo; a história de Pedro da Maia e Maria Monforte - época de instauração do Liberalismo e consequentes contradições internas; a história da infância e juventude de Carlos da Maia - época de decadência das experiências Liberais.


Na intriga principal: São retratados os amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda que terminam com a desagregação da família - morte de Afonso e separação de Carlos e Maria Eduarda. Carlos é o protagonista da intriga principal. Teve uma educação à inglesa e tirou o curso de medicina em Coimbra. A educação de Maria Eduarda foi completamente diferente, donde se conclui que a sua paixão não foi condicionada pela educação, nem pela hereditariedade, nem pelo meio. A sua ligação amorosa foi comandada à distância por uma entidade que se denomina destino. A ação principal d' Os Maias, desenvolve-se segundo os moldes da tragédia clássica - peripécia, reconhecimento e catástrofe. A peripécia verificou-se com as revelações casuais de Guimarães a Ega sobre a identidade de Maria Eduarda; o reconhecimento, acarretado pelas revelações de Guimarães, torna a relação entre Carlos e Maria Eduarda uma relação incestuosa, provocando a catástrofe consumada pela morte do avô e a separação definitiva dos dois amantes. Que a intriga era trágica, já o vinham anunciando inúmeros presságios de desgraça. Pedro da Maia recebeu uma educação à portuguesa com imposição de uma devoção religiosa punitiva, fuga ao contacto direto com a natureza e o mundo prático. Quando Maria Monforte aparece em Lisboa, atrai-o como um íman; o casamento fez-se contra a vontade do pai de Pedro. Quando esta foge com Tancredo, Pedro acaba com a sua vida. O destino desta personagem foi totalmente condicionado pelos fatores naturalistas: a hereditariedade - mãe, e educação, ao contrário dos seus filhos, que não são influenciados por estes fatores naturalistas.

– AS PERSONAGENS

 As personagens intervenientes na ação de "Os Maias" são cerca de 60. É, portanto, impossível e desnecessário fazer a análise de todas elas. Cingimo-nos às personagens principais e algumas personagens planas ou tipo que consideramos importantes para o desenrolar da ação.

- Personagens Centrais:

Afonso da Maia | Pedro da Maia | Carlos da Maia | Maria Eduarda | Maria Monforte

Afonso da Maia

Caracterização Física: Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o nariz aquilino e a pele corada. O cabelo era branco, muito curto e a barba branca e comprida. Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado das idas heróicas, um D. Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque".  

Caracterização Psicológica: Provavelmente o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo com o seu gato – Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus netos. É o símbolo do velho Portugal que contrasta com o novo Portugal – o da Regeneração – cheio de defeitos. É o sonho de um Portugal impossível por falta de homens capazes.  

Pedro da Maia

Caracterização Física: Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavam-no a um belo árabe". Valentia física.
Caracterização Psicológica: Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho". O autor dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos Runa e à sua semelhança psicológica com estes. Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação retrograda. O seu único sentimento vivo e intenso fora a paixão pela mãe. Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como demonstra a reação do suicídio face à fuga da mulher). Falha no casamento e falha como homem.

Carlos da Maia

Caracterização Física: Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina, castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca. Com diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença".
Caracterização Psicológica: Carlos era culto, bem educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projeto sério). Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos e também devido a aspetos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o egoísmo, o futilidade e o espírito boémio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a questão Coimbrã e as Conferências do Casino e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.

Maria Monforte

Caracterização Física: É extremamente bela e sensual. Tinha os cabelos loiros, "a testa curta e clássica, o colo ebúrneo".

Caracterização Psicológica: É vítima da literatura romântica e daqui deriva o seu carácter pobre, excêntrico e excessivo. Costumavam chamar-lhe negreira porque o seu pai levara, noutros tempos, cargas de negros para o Brasil, Havana e Nova Orleans. Apaixonou-se por Pedro e casou com ele. Desse casamento nasceram dois filhos. Mais tarde foge com o napolitano, Tancredo, levando consigo a filha, Maria Eduarda, e abandonando o marido e o filho - Carlos Eduardo. Leviana e imoral, é, em parte, a culpada de todas as desgraças da família Maia. Fê-lo por amor, não por maldade. Morto Tancredo, num duelo, leva uma vida dissipada e morre quase na miséria. Publicado em http://portugues11ano.blogspot.com por António Alves Pág. 6Deixa um cofre a um conhecido português - o democrata Guimarães - com documentos que poderiam identificar a filha a quem nunca revelou as origens.  

Maria Eduarda
Maria Eduarda era uma bela mulher: alta, loira, bem feita, sensual mas delicada, "com um passo soberano de deusa".  

- Personagens Planas e/ou Tipo: João da Ega | Eusébiozinho | Alencar | Conde de Gouvarinho | Sousa Neto Palma Cavalão | Dâmaso Salcede | Steinbroken | Cohen | Craft Condessa de Gouvarinho | Cruges | Tancredo | Sr. Guimarães | Rufino

João da Ega

Caracterização Física: Ega usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço esganiçado, punhos tísicos, pernas de cegonha". Era o autêntico retrato de Eça.
Caracterização Psicológica: João da Ega é a projeção literária de Eça de Queirós. É um personagem contraditório. Por um lado, romântico e sentimental, por outro, progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional. Era o Mefistófeles de Celorico. Amigo íntimo de Carlos desde os tempos de Coimbra, onde se formara em Direito (muito lentamente). A mãe era uma rica viúva e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos, com a filha.  Boémio, excêntrico, exagerado, caricatural, anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre também de diletantismo (concebe grandes projetos literários que nunca chega a executar). Terminado o curso, vem viver para Lisboa e torna-se amigo inseparável de Carlos. Como Carlos, também ele teve a sua grande paixão - Raquel Cohen. Um falhado, corrompido pela sociedade. Encarna a figura defensora dos valores da escola realista por oposição à romântica. Na prática, revela-se em eterno romântico. Nos últimos capítulos ocupa um papel de grande relevo no desenrolar da intriga. É a ele que Guimarães entrega o cofre. É juntamente com ele, que Carlos revela a verdade a Afonso. É ele que diz a verdade a Maria Eduarda e a acompanha quando esta parte para Paris definitivamente.
Eça utiliza dois tipos de caracterização das suas personagens: a caracterização direta e a caracterização indireta. A primeira é usada de forma privilegiada para todas as personagens 
 Destaca-se a heterocaracterização naturalista de Pedro da Maia e a autocaracterização mista de Maria Eduarda. A caracterização indireta é utilizada para a personagem Carlos da Maia, do qual apenas se apresentam, inicialmente, pequenos traços físicos, deixando que as suas ações demonstrem a sua personalidade.  

Eusébiozinho:

Eusébiozinho representa a educação retrógrada portuguesa. Também conhecido por Silveirinha, era o morgado de uma das Silveiras - senhoras ricas e beatas. Amigo de infância de Carlos com quem brincava em Santa Olávia, levando pancada continuamente, e com quem contrastava na educação. Cresceu tísico, molengão, tristonho e corrupto. Casou-se, mas enviuvou cedo. Procurava, para se distrair, bordéis ou aventureiras de ocasião pagas à hora.

Alencar Tomás de Alencar:

Era "muito alto, com uma face encaveirada, olhos encovados, e sob o nariz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos". Era calvo, em toda a sua pessoa "havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre". Simboliza o romantismo piegas. O paladino da moral. Eça serve-se desta personagens para construir discussões de escola, entre naturalistas e românticos, numa versão caricatural da Questão Coimbrã. Não tem defeitos e possui um coração grande e generoso. É o poeta do ultra-romantismo.  

Conde de Gouvarinho:

Era ministro e par do Reino. Tinha um bigode encerado e uma pera curta. Era voltado para o passado. Tem lapsos de memória e revela uma enorme falta de cultura. Não compreende a ironia sarcástica de Ega. Representa a incompetência do poder político (principalmente dos altos cargos). Fala de um modo depreciativo das mulheres. Revelar-se-á, mais tarde, um bruto com a sua mulher.
Sousa Neto Deputado, representa os altos funcionários públicos. É inculto, defende a imitação do estrangeiro. Muitas vezes, por falta de cultura, coloca-se à margem das discussões, acatando todas as opiniões alheias, mesmo as mais absurdas.

Palma Cavalão:

Cavalão por alcunha, era baixo, gordo, sem pescoço. É o diretor do jornal "A Corneta do Diabo", cuja redação é um antro de porcaria. Símbolo do Jornalismo de escândalo e corrupto, é um imoral sem qualquer carácter. artigo injurioso contra Carlos por dinheiro, vendendo mais tarde, a tiragem desse número do jornal, uma vez mais por dinheiro. Publica folhetins de baixo nível.

Dâmaso Salcede:

Dâmaso é uma súmula de defeitos. Filho de um agiota, é presumido, cobarde e sem dignidade. É dele a carta anónima a Castro Gomes, que revela o envolvimento de Maria Eduarda com Carlos. É dele também, a notícia contra Carlos n'A Corneta do Diabo. Mesquinho e convencido, provinciano e tacanho, tem uma única preocupação na vida o "chic a valer" Representa o novo riquismo e os vícios da Lisboa da segunda metade do séc. XIX. O seu carácter é tão baixo, que se retracta, a si próprio, como um bêbado, só para evitar bater-se em duelo com Carlos. Era baixo, gordo, "frisado como um noivo de província". Era sobrinho de Guimarães. A ele e ao tio se devem, respetivamente, o início e o fim dos amores de Carlos com Maria Eduarda.  

Steinbroken:

 Retrato do diplomata solene, formal, bacoco, sempre receoso de afirmações políticas comprometedoras. É em tudo um medíocre, contribui para a atmosfera de "gentlemanliness" que se vive no Ramalhete. Ministro da Finlândia, representa o diplomata inútil. É um entusiasta da Inglaterra. É também um grande conhecedor de vinhos.  

Cohen Banqueiro:

Representa as altas finanças. Considera que ainda há gente séria nas camadas dirigentes. É calculista, cínico e embora tenha responsabilidades pelo cargo que desempenha, lava as mãos e afirma alegremente que o país vai direitinho para a banca rota.  

Craft:

É um personagem com pouca importância para o desenrolar da ação, mas que representa a formação britânica, o protótipo do que deve ser um homem. Defende a arte pela arte, a arte como idealização do que há de melhor na natureza. É culto e forte, de hábitos rígidos, "sentindo finamente, pensando com retidão". Inglês rico e boémio, colecionador de brique-a-braque.

Condessa de Gouvarinho:

Cabelos crespos e ruivos, nariz petulante, olhos escuros e brilhantes, bem feita, pele clara, fina e doce; é casada com o conde de Gouvarinho e é filha de um comerciante inglês do Porto. É imoral e sem escrúpulos. Traí o marido, com Carlos, sem qualquer tipo de remorsos. Questões de dinheiro e a mediocridade do conde fazem com que o casal se desentenda. Envolve-se com Carlos e revela-se apaixonada e impetuosa. Carlos deixa-a, acaba por perceber que ela é uma mulher sem qualquer interesse, demasiado fútil. No final, depois de ter levado uma sova do marido, que descobriu a traição, tudo fica bem entre o casal.  

Cruges Maestro e pianista patético:

Era amigo de Carlos e íntimo do Ramalhete. Era demasiado chegado à sua velha mãe. "De grenha crespa que lhe ondulava até à gola do jaquetão", "olhinhos piscos" e nariz espetado. Segundo Eça, "um diabo adoidado, maestro, pianista com uma pontinha de génio". É desmotivado devido ao meio lisboeta - "Se eu fizesse uma boa ópera, quem é que ma representava".

Tancredo:

 É um incidente onde é atingido por um tiro, que o leva até à casa de Maria Monforte. Esta acaba por se apaixonar pelo hóspede, com quem foge, subitamente, levando consigo a filha. Tancredo acabará, mais tarde, por morrer num duelo.  

Sr. Guimarães:

Usava largas barbas e um grande chapéu de abas à moda de 1830. Conheceu a mãe de Maria Eduarda, que lhe confiou um cofre contendo documentos que identificavam a filha. Guimarães é, portanto, o mensageiro da trágica verdade que destruirá a felicidade de Carlos e de Maria Eduarda. Dizia-se o democrata Mesieur Guimaran, que vivia em Paris e era amigo de Gambetta, o comunista. Mas na realidade, vivia miseravelmente num sótão e era redator do "Rapel", para onde traduzia notícias de jornais espanhóis.

Rufino:

"De pera grande, deputado por Monção e sublime nessa arte (...) de arranjar, numa voz de teatro e de papo, combinações sonoras de palavras". De retórica balofa e oca, faz-se ouvir no Sarau Literário do Teatro da Trindade, o que levou Ega a classificá-lo de "besta" e Carlos de "horroroso". A sua poesia demonstra um desfasamento entre a realidade e o discurso, e uma grande falta de originalidade (recorre a lugares comuns), mas apesar disso é muito aclamado pelo público, tocado no seu sentimentalismo.