quarta-feira, 2 de abril de 2014

Cesário Verde - Análise


Estrutura Externa:

 

Tipo de Composição: 17 quadras, onde os três primeiros versos são alexandrinos (12 sílabas métricas) e o quarto é um hexassílabo ( 6 sílabas métricas).

 

 

Eu/ ho/ je es /tou /cru/el, /fre/né/ti/co, e/xi/gen/te;  - 12

Nem/ pos/so /to/le/rar/ os/ li/vros/ mais/ bi/zar/ros.  - 12

In/crí/vel!/ Já /fu/mei/ três/ ma/ços/ de/ ci/gar/ros - 12

 Com/se/cu/ti/va/men/te. – 6 

 

Rima: Emparelhado nos 2º e 3º versos; Interpolada nos 1º e 4º versos; Esquema ABBA.

Divisão em partes:

Primeira Parte: estrofes 1 e 2

Segunda Parte: estrofes 3 e 4

Terceira Parte: estrofes 5 a 12

Quarta Parta: estrofes 13 e 14

Quinta Parte: estrofes 15 e 16

Sexta Parte: estrofe17

 

 

Estrutura Interna:

Primeira Estrofe: estrofe 1 e 2

Personagem Predominante: sujeito poético
Dá-nos a conhecer o mal estar do sujeito.


Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Dói-me a cabeça . Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos

Segunda Parte: estrofe 3 e 4


Personagem Predominante: engomadeira
Retrata a situação da engomadeira tuberculosa.



Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes ;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida!
O doutor deixou-a . Mortifica.
Lidando sempre ! E deve conta à botica!
Mal ganha para sopas...
Terceira Parte: estrofes 5 a 12

Personagem Predominante: sujeito poético
Relação tempestuosa entre a imprensa e o sujeito.


O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias ,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.


Que mau humor ! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta
.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na.
Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.

Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chuvisca. O populacho
Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente!
Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.


Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte?
Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua “coterie”;
E a mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.

A adulação repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...
Quarta Parte: estrofes 13 e 14

Personagem Predominante: engomadeira
Descreve-nos o drama da engomadeira abandonada.


E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas ,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!
Quinta Parte: estrofes 15 e 16

Personagem Predominante: sujeito poético
Assistimos  uma conformação irónica do sujeito.


Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a “réclame”, a intriga, o anúncio, a “blague”,
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras…
Sexta Parte: estrofe 17

Personagem Predominante: sujeito poético e engomadeira
Estabelece um paralelismo entre a realidade de ambas as personagens.


E estou melhor; passou-me a cólera.E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!