quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

"Felizmente há Luar!" - Paralelo entre Tempo da História e o Tempo da Escrita

   Revolução Francesa de 1789 e invasões napoleónicas levam Portugal à indecisão entre os aliados e os franceses. Para evitar a rendição, D. João V foge para o Brasil. Depois da 1ª invasão, a corte pede a Inglaterra, um oficial para reorganizar o exército: General Beresford

   Luís de Sttau Monteiro denuncia a opressão vivida na época em que escreve esta obra, isto é, em 1965, durante a ditadura de Salazar. Assim, o recurso à distanciação histórica e à descrição das injustiças praticadas no início do século XIX, permitiu-lhe, também, colocar em destaque as injustiças do seu tempo.
  
 A peça "Felizmente há luar" é uma peça épica, inspirada na teoria marxista, que apela à reflexão, não só no quadro da representação, como também na sociedade em que se insere. O teatro de Brecht pretende representar o mundo e o homem em constante evolução de acordo com as relações sociais. Estas características afastam-se da concepção do teatro aristotélico que pretendia despertar emoções, levando o espectador a identificar-se com o herói. 
  
 O teatro moderno tem como preocupação fundamental levar os espectadores a pensar, a reflectir sobre os acontecimentos passados e a tomar posição na sociedade em que se insere. Surge assim a técnica do distanciamento que propõe um afastamento entre o actor e a personagem e entre o espectador e a história narrada, para que, de uma forma mais real e autêntica possam fazer juízos de valor sobre o que está a ser representado. Luís Sttau Monteiro pretende, através da distanciação, envolver o espectador no julgamento da sociedade, tomando contacto com o sofrimento dos outros. 
 
  Deste modo o espectador deve possuir um olhar crítico para melhor se aperceber de todas as formas de injustiça e opressões.

"Felizmente Há Luar" - Elementos Simbólicos

Saia verde: A saia encontra-se associada à felicidade e foi comprada numa terra de liberdade: Paris. , no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas. "alegria no reencontro"; a saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à esperança de que um dia se reponha a justiça.  Sinal do amor verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo aparentemente a dor e revolta iniciais, comunica aos outros esperança através desta simples peça de vestuário. O verde é a cor predominante na natureza e dos campos na Primavera, associando-se à força, à fertilidade e à esperança.



Título: 
duas vezes mencionado, inserido nas falas das personagens (por D.Miguel, que salienta o efeito dissuador das execuções e por Matilde, cujas palavras remetem para um estímulo para que o povo se revolte).






A luz: como metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta de liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se encontra associada à vida, à saúde e à felicidade, a noite e as trevas relacionam-se com o mal, a infelicidade, o castigo, a perdição e a morte. A luz representa a esperança num momento trágico.
 mal, castigo, morte, símbolo do obscurantismo


Lua:
 simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma, representa: dependência, periodicidade. A luz da lua, devido aos ciclos lunares, também se associa à renovação. A luz do luar é a força extraordinária que permite o conhecimento e a lua poderá simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte. 
 duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas e para os oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade.
 D. Miguel Forjaz – ensinamento ao povo; Matilde – a chama mantém-se viva e a liberdade há-de chegar.
O fogo é um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.












Moeda de cinco reis: símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus.










Tambores: símbolo da repressão sempre presente.




"Felizmente Há Luar" - Título

O título da peça aparece duas vezes ao longo da peça, ora inserido nas falas de um dos elementos do poder – D. Miguel – ora inserido na fala final de Matilde. Em primeiro lugar é curioso e simbólico o facto de o título coincidir com as palavras finais da obra, o que desde logo lhe confere circularidade. 

1) página 131 – D. Miguel: salientando o efeito dissuasor das execuções, querendo que o castigo de Gomes Freire se torne num exemplo;
 2) página 140 – Matilde: na altura da execução são proferidas palavras de coragem e estímulo, para que o povo se revolte contra a tirania;

   Num primeiro momento, o título representa as trevas e o obscurantismo; num segundo momento, representa a caminhada da sociedade em busca da liberdade.
    Como facilmente se constata a mesma frase é proferida por personagens pertencentes a mundos completamente opostos: D. Miguel, símbolo do poder, e Matilde, símbolo da resistência e do antipoder. Porém o sentido veiculado pelas mesmas palavras altera-se em virtude de uma afirmação dar lugar a uma eufórica exclamação

   1) Para D. Miguel, o luar permitiria que as pessoas vissem mais facilmente o clarão da fogueira, isso faria com que elas ficassem atemorizadas e percebessem que aquele é o fim ultimo de quem afronta o regime. A fogueira teria um efeito dissuasor.

  2) Para Matilde, estas palavras são fruto de um sofrimento interiorizado reflectido, são a esperança e o não conformismo nascidos após a revolta, a luz que vence as trevas, a vida que triunfa da morte. A luz do luar (liberdade) vencerá a escuridão da noite (opressão) e todos poderão contemplar, enfim, a injustiça que está a ser praticada e tirar dela ilações.

Há que imperiosamente lutar no presente pelo futuro e dizer não à opressão e falta de liberdade, há que seguir a luz redentora e trilhar um caminho novo.


"Felizmente Há Luar" - Tempo

Tempo:


- tempo histórico: século XIX;

 - tempo da escrita: 1961, época dos conflitos entre a oposição e o regime salazarista;

 - tempo da representação: 1h30m/2h;

 - tempo da acção dramática: a acção está concentrada em 2 dias;

- tempo da narração: informações respeitantes a eventos não dramatizados, ocorridos no passado, mas importantes para o desenrolar da acção.





"Felizmente Há Luar" - Espaço

Espaço:


 - espaço físico: a acção desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores, mas não há nas indicações cénicas referência a cenários diferentes;


 - espaço social: meio social em que estão inseridas as personagens, havendo vários espaços sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo vestuário e pela linguagem das várias personagens;


Caracteristicas das personagens

GOMES FREIRE: protagonista, embora nunca apareça é evocado através da esperança do povo, das perseguições dos governadores e da revolta da sua mulher e amigos. É acusado de ser o grão-mestre da maçonaria, estrangeirado, soldado brilhante, idolatrado pelo povo. Acredita na justiça e luta pela liberdade. É apresentado como o defensor do povo oprimido; o herói (no entanto, ele acaba como o anti-herói, o herói falhado); símbolo de esperança de liberdade

D. MIGUEL FORJAZ: primo de Gomes Freire, assustado com as transformações que não deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio e calculista. prepotente; autoritário; servil (porque se rebaixa aos outros); 

PRINCIPAL SOUSA: defende o obscurantismo, é deformado pelo fanatismo religioso; desonesto, corrompido pelo poder eclesiástico, odeia os franceses

BERESFORD: cinismo em relação aos portugueses, a Portugal e à sua situação; oportunista; autoritário; mas é bom militar; preocupa-se somente com a sua carreira e com dinheiro; ainda consegue ser minimamente franco e honesto, pois tem a coragem de dizer o que realmente quer, ao contrário dos dois governadores portugueses. É poderoso, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico

VICENTE: sarcástico, demagogo, falso humanista, movido pelo interesse da recompensa material, hipócrita, despreza a sua origem e o seu passado; traidor; desleal; acaba por ser um delator que age dessa maneira porque está revoltado com a sua condição social (só desse modo pode ascender socialmente).

MANUEL: denuncia a opressão a que o povo está sujeito. É o mais consciente dos populares; é corajoso. 

MATILDE DE MELO: corajosa, exprime romanticamente o seu amor, reage violentamente perante o ódio e as injustiças, sincera, ora desanima, ora se enfurece, ora se revolta, mas luta sempre. Representa uma denúncia da hipocrisia do mundo e dos interesses que se instalam em volta do poder (faceta/discurso social); por outro lado, apresenta-se como mulher dedicada de Gomes Freire, que, numa situação crítica como esta, tem discursos tanto marcados pelo amor, como pelo ódio.

SOUSA FALCÃO: inseparável amigo, sofre junto de Matilde, assume as mesmas ideias que Gomes Freire, mas não teve a coragem do general. Representa a amizade e a fidelidade; é o único amigo de Gomes Freire de Andrade que aparece na peça; ele representa os poucos amigos que são capazes de lutar por uma causa e por um amigo nos momentos difíceis.

Frei Diogo:
 homem sério; representante do clero; honesto – é o contraposto do Principal Sousa. 

Delatores:
 mesquinhos; oportunistas; hipócritas.


MIGUEL FORJAZ, BERESFORD e PRINCIPAL SOUSA  perseguem, prendem e mandam executar o General e restantes conspiradores na fogueira. Para eles, a execução à noite, constituía uma forma de avisar e dissuadir os outros revoltosos, mas para MATILDE era uma luz a seguir na luta pela liberdade.





quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Humberto Delgado


1906: Em Brogueira, Torres Novas, nasce Humberto da Silva Delgado.

1922: Entra na Escola do Exército.

1925: Finaliza o Curso Militar.

1926: Participa na Revolução de 28 de Maio.

1939: Emissão e publicação da sua peça "O Estado Novo"

1952: Nomeado Adido Militar em Washington

1953: Promovido a General (o mais novo das Forças Armadas)

1958: Candidato à Presidência da República.

1959: É suspenso e demitido das Forças Armadas; asila-se na Embaixada do Brasil e depois exila-se para aquele país.

1961: Assume a responsabilidade pelo assalto ao "Santa Maria"; participa na Revolta de Beja.

1962: É julgado à revelia como implicado no assalto ao "Santa Maria".

1963: Instala-se na Argélia e assume a chefia da Junta Patriótica de Libertação Nacional.

1964: Deixa a JPLN e funda a Frente Portuguesa de Libertação Nacional.

1965: É assassinado pela PIDE nos arredores de Olivença.

1990: Nomeado, a título póstumo, Marechal da Força Aérea.



António Oliveira Salazar

António de Oliveira Salazar nasceu no dia 28 de Abril de 1889 em Vimieiro, concelho de Santa Comba Dão, no seio de uma família de pequenos proprietários agrícolas e o seu nome ficará para sempre na História de Portugal como o estadista que mais tempo governou, de forma autoritária e em ditadura, o país.
Educação de António Oliveira Salazar
A educação de António de Oliveira Salazar sofreu sempre uma fortíssima influência católica, facto que viria a reflectir-se em vários momentos da sua vida, chegando mesmo a frequentar um seminário.
No entanto, seria na Universidade de Coimbra, na Faculdade de Direito, que António de Oliveira Salazar viria a terminar a sua formação académica.
Licenciado em direito em 1914, António de Oliveira Salazar inicia a carreira de professor universitário 3 anos mais tarde e com ela um percurso que o levaria a atingir o grau de professor catedrático.
Vida Politica de Antonio Oliveira Salazar
Desde cedo António de Oliveira Salazar se envolveu em política.
Em 1921, António de Oliveira Salazar é eleito deputado, cargo que ocuparia apenas durante 1 dia porque, segundo ele próprio viria depois a justificar, advogava uma renovação de objectivos e de processos de governação que aquela assembleia não viabilizaria.
Voltaria ao activo político em 1926, depois da revolução ocorrida em Maio desse mesmo ano, quando aceitou ser Ministro das Finanças, cargo que ocupou durante apenas 13 dias.
Seria só em 1928 que a carreira política de António de Oliveira Salazar viria a solidificar.
Nesse ano voltou a aceitar a pasta das Finanças depois de ter garantido junto dos militares que o seu ministério seria o único a poder autorizar despesas.
Desde essa altura, António de Oliveira Salazar nunca mais abandonaria o poder.
Em poucos anos António de Oliveira Salazar conseguiu chegar ao cargo de Presidente do Conselho, posição que manteve até ao dia da sua morte, quase 40 anos depois, em 1968.
Durante cerca de 4 décadas Salazar criou e instituiu em Portugal o Estado Novo, um processo de governação autoritário e ditatorial que se estendeu a todos os sectores da vida do país e dos portugueses.
Com o Estado Novo chegaram a censura, a Legião Portuguesa, a polícia política (primeiro chamada PVDE, e mais tarde PIDE), a Mocidade Portuguesa e uma forte máquina de propaganda, que era essencialmente a repressão a fim de manter o regime a todo o custo.
Numa época em que os regimes ditatoriais de carácter fascista alastravam pela Europa (Mussolini em Itália, Hitler na Alemanha e Franco em Espanha) Salazar soube dar ao seu Estado Novo características muito próprias, capazes de o distinguir dos seus pares com quem, aliás, sempre manteve uma relação próxima e ao mesmo tempo distante.
Fruto desta diplomacia, Salazar conseguiria mesmo evitar que Portugal se envolvesse na II Guerra Mundial e fazer um jogo duplo no qual envolveu os alemães e os ingleses, ora piscando o olho a um lado ora a outro.
Com uma governação austera, salpicada aqui e ali por traços de grandeza imperialista (a Exposição do Mundo Português em 1940 é um dos melhores exemplos dessa tendência), Salazar manteve as contas do país equilibradas, mas sempre à custa da pobreza de um povo que morria de fome e que, com o rebentar da guerra nas várias colónias africanas, passaria também a morrer às mãos dos guerrilheiros.
As pequenas escaramuças do início da década de 60 no norte de Angola depressa escalaram para cenários de guerra aberta na grande maioria das colónias africanas.
Acrescia o facto da mudança que se verificou no panorama internacional, com a ONU a exigir a Portugal o início do processo de descolonização.
Salazar via-se, cada vez mais, sozinho, mas não desistiu de manter o império ultramarino pela força das armas, ainda que o esforço resultasse num crescente mau estar interno em vários sectores, nomeadamente entre os militares.
O seu afastamento do poder aconteceu apenas devido a doença. Em 1968 António de Oliveira Salazar é vítima de um Acidente Vascular Cerebral, a famosa queda da cadeira, que o deixa física e mentalmente diminuído.
Por essa altura é substituído na presidência do Concelho por Marcelo Caetano mas Salazar continua convencido que é ele quem governa até ao dia da sua morte, em dia 27 de Julho de 1970.
 
 


O Estado Novo e a Revolução dos Cravos


Após o retiro de António de Oliveira Salazar, foi substituído por Marcelo Caetano desde 1968, quem, longe de ser o agente de câmbio que o país esperava, continuou as políticas de seu predecessor, que deixaram a Portugal em uma situação cada vez mais crítica.

O Estado Novo, após 41 anos de vida, foi derrubado no dia 25 de Abril de 1974, com um golpe efetuado por militares do Movimento das Forças Armadas – MFA.

Cansada da repressão, da censura e da guerra, a população apoiou ativamente as ações golpistas.

 

A Revolução dos Cravos, como foi conhecida esta insurreição, não causou vítimas nem feridos. O caráter pacífico deste evento explica a impotência do governo do Estado Novo para enfrentar-se aos setores de oposição.

Estado Novo


António de Oliveira Salazar tornou-se Presidente do Conselho em 1932, tendo no ano seguinte apresentado uma nova Constituição, que pôs fim à Ditadura Militar, e instaurando o regime a que a propaganda oficial chamou Estado Novo.

Eis algumas das características e orientações fundamentais do Estado Novo português:

- Foi criado um partido político oficial, a União Nacional, que transmitia o "espírito da Nação", enquanto que a oposição era duramente reprimida. Quando Marcello Caetano substituiu Salazar alterou o nome União Nacional para Acção Nacional Popular.

- Toda a vida económica e social do país foi organizada em corporações. O corporativismo estabelecia um maior controlo do Estado sobre as actividades económicas e dificultava a existência dos Sindicatos.

- O culto a Salazar nunca assumiu as proporções existentes na Itália ou na Alemanha

- A Igreja e o regime caminhavam lado a lado. Com uma ideologia marcadamente conservadora, o Estado Novo orientava-se segundo os princípios consagrados pela tradição: Deus, Pátria, Família, Autoridade, Hierarquia, Moralidade, Paz Social e Austeridade.

- Foi desenvolvido um projecto ao nível da cultura que pretendeu dar uma certa leveza ao regime e simultaneamente glorificá-lo.

- A censura aos media procurou sempre não deixar avançar qualquer tipo de rebelião contra o regime, velando sempre pela moral e os bons costumes que Salazar defendia.

- Uma polícia política, que teve várias designações (PVDE, PIDE, DGS), que perseguia todo e qualquer opositor do regime.

- Uma política colonialista, que afirmava que Portugal como "um Estado pluricontinental e multirracial". Todavia, a partir de 1961, já com muitas pressões internacionais para o país conceder a independência às suas colónias, teve início uma das páginas mais negras da nossa História: a Guerra Colonial.

- Uma política nacionalista a vários níveis, marcada pela máxima "Estamos orgulhosamente sós".

- Criação de milícias, uma para defesa do regime e combate ao comunismo, a Legião Portuguesa; outra destinada a inculcar nos jovens os valores do regime, a Mocidade Portuguesa.

 

D.Manuel Gonçalves Cerejeira



Manuel Gonçalves Cerejeira, cardeal da Igreja Católica, foi o décimo-quarto Patriarca de Lisboa com o nome de D. Manuel II.

Diplomado em Teologia e em Ciências Histórico-Geográficas pela Universidade de Coimbra, na respectiva Faculdade de Letras obteve em 1919 o grau de doutor em Ciências Históricas, com a tese «Clenardo e a Sociedade Portuguesa do seu tempo». Desse ano a 1928 foi professor da Escola onde se graduara.

Foi o Patriarca que dirigiu a Igreja Católica Portuguesa durante o Estado Novo; íntimo de Salazar, procurou salvaguardar e restaurar a condição que o Catolicismo perdera durante o regime republicano (I República). Como tal, e a fim de apaziguar as tensas relações entre o Estado e a Igreja, foi um dos principais concorrentes e apoiantes para a assinatura da Concordata com a Santa Sé em 1940.

Era apoiante do Estado Novo, fundado pelo seu amigo universitário Oliveira Salazar. Apesar dessa ligação houve grandes tensões na defesa de cada uma das suas posições: os interesses do Estado, por parte de Salazar e os da Igreja, por Cerejeira.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

General Gomes Freire de Andrade


Embora nunca apareça em cena, Gomes Freire de Andrade - amado pelo povo e odiado pelos governadores - é a personagem central e constitui o elemento estruturador da acção:

- origina a sequência de episódios da peça

- é o símbolo da luta pela Liberdade e pela Justiça;

- atrai a admiração e a esperança do povo miserável e oprimido;

- atrai, por oposição, a desconfiança e o ódio dos governadores

- a sua prisão, condenação e execução constituem o centro das conversas e condicionam o comportamento das restantes personagens.

Apesar de estar fisicamente ausente (de facto, nunca surge em cena / palco), domina os pensamentos e as preocupações das restantes personagens, daí que o seu retrato seja traçado a partir do que elas nos dão a conhecer sobre ele.

 

O general Gomes Freire de Andrade é apresentado como:

- um homem culto, educado e letrado (um estrangeirado");

- o símbolo da luta pela liberdade e pela defesa dos ideais contrários à prática dos "reis do Rossio";

- o símbolo da modernidade e do progresso, adepto das novas ideias liberais, por isso considerado pelos governantes subversivo e perigoso, daí que preencha todos os requisitos para ser o bode expiatório do ambiente de revolta;

- símbolo da integridade e da recusa da subserviência, da capacidade de liderança e de coragem na defesa dos ideais em que crê

- culpado (pelos detentores do poder) porque "... é lúcido, é inteligente, é idolatrado pelo povo, é um soldado brilhante, é grão-mestre da Maçonaria e é, senhores, um estrangeirado..." (p. 71);

- um homem cuja morte remete para a manutenção de uma ideologia fossilizada, num país estagnado e assolado pelo medo, pela denúncia e pela suspeição (p. 63);

 

Um homem cuja morte é duplamente aviltante enquanto militar, pois é enforcado e depois queimado, quando a sentença adequada para ele na qualidade de elemento do exército seria o fuzilamento; por outro lado, a morte pretende ser uma lição para todos aqueles que ousarem afrontar o poder político.


D.Miguel Pereira Forjaz


D. Miguel Pereira Forjaz (1 de Novembro de 1769 — 6 de Novembro de 1827), 9.º Conde da Feira, foi um militar e político português que se distinguiu durante a ocupação francesa de Portugal e as guerras napoleónicas.
Foi um dos nomeados governador do Conselho de Regência de 1807 e do de 1807 para tomarem conta do Reino de Portugal quando a corte se deslocou para o Brasil.
Militar português, 9.º Conde da Feira, nascido a 1 de novembro de 1769 e falecido a 6 de novembro de 1827, entrou para o exército em 1785, como cadete no Regimento de Peniche. Promovido a alferes em 1787, a capitão em 1791 e a major em 1793, tornou-se ajudante de ordens do general Forbes, combatendo no Rossilhão e na Catalunha. Em 1800, foi nomeado governador e capitão-general do Pará, Brasil, (para onde não chegou a partir). Em 1808 foi promovido a marechal de campo e em 1812 a tenente general.
Apoiou Beresford na reorganização do exército português, embora assumindo posições cada vez mais críticas sobre a influência do general britânico.
Com a revolução de 1820, abandonou o seu lugar na Regência, mas recebeu o título de conde da Feira.
Luís de Sttau Monteiro fez de D. Miguel Forjaz personagem na sua peça de teatro Felizmente Há Luar!. Primo de Gomes Freire, é um governante prepotente, assustado com transformações que não deseja, corrompido pelo poder, vingativo, frio, desumano, calculista. Inteiramente dedicado aos seus ideais, D. Miguel assume como missão o combate por um modelo de sociedade à luz dos valores do patriotismo e da noção de Estado, assente nos pilares tradicionais da monarquia absolutista; da defesa de uma sociedade estratificada, com papéis sociais distintos; da recusa de uma sociedade regida por princípios como liberdade e igualdade; da conceção de um poder político autocrático.
 
Representante da Nobreza na Regência, assume o papel principal na acusação do General Gomes Freire pois receia que o prestígio, inteligência e capacidade deste lhe retirem a projeção a que está habituado e coloquem em causa o seu lugar na Regência.

Willian Carr Beresford


William Carr Beresford (Irlandax, 1768 — 8 de Janeiro de 1854) foi um militar britânico, marechal (1809) e depois marechal-general (1816) do exército português.

Foi comandante em chefe durante toda a Guerra Peninsular, de março de 1809 à revolução liberal de 1820, gozando de poderes de governação dada a ausência da Corte portuguesa, refugiada no Brasil (1808-1821).

Na peça Felizmente Há Luar!, de Luís de Sttau Monteiro, Beresford demonstra ser poderoso, mercenário, interesseiro, calculista, trocista, sarcástico; a sua opinião sobre Portugal fica claramente expressa na afirmação «Neste país de intrigas e de traições, só se entendem uns com os outros para destruir um inimigo comum e eu posso transformar-me nesse inimigo comum, se não tiver cuidado.».
O marechal Beresford teme ser substituído pelo General Gomes Freire de Andrade e perder privilégios, quer ao nível dos poderes que exerce, quer do elevado salário que aufere pelos seus serviços de comandante do exército português. Por isso, realça a gravidade do momento, impelindo os outros à ação: «Não percam tempo, Senhores. O momento é grave e a causa é justa. Vão.».
Beresford revela-se ainda um homem de ação, de carácter autoritário, intolerante e pragmático («Quero saber, «Comprem [...], vendam [...], mas tragam-nos os nomes dos chefes»);não só assume, sem qualquer remorso ou inquietação moral, a conveniência de «crucificar alguém»(com ou sem provas concretas) como o faz com uma frieza sarcástica e calculista («Já que temos ocasião de crucificar alguém, que escolhamos a quem valha a pena crucificar…»),chamando a atenção para a importância do perfil da personalidade a escolher («Pensou em alguém, Excelência?» ).
Na peça Felizmente Há Luar!, faz-se um retrato implacável do poder autocrático, o qual, no contexto sociopolítico em que a peça é escrita, de imediato evoca a ditadura salazarista, de igual modo alicerçada na mediocridade e perseguindo arbitrariamente as personalidades que se evidenciavam pela inteligência, competência e coerência moral.
A personagem Beresford representa, de forma exemplar, esse poder autocrático, chamando a si a arbitrariedade e o cinismo com que os ditadores exercem o poder, orientando a procura do nome do chefe da conjura, não com base em factos incriminatórios, mas segundo o que lhes convenha a eles, aos governantes, para se manterem no poder. Juntamente com o marechal, D. Miguel completa este retrato do poder ditatorial, evidenciando o medo que a personagem tem do confronto democrático («estaria politicamente liquidado se tivesse de discutir as minhas ordens») e do possível aparecimento de líderes populares, pela ameaça que constituiriam ao seu poder. É assim que o general Gomes Freire de Andrade é escolhido para ser acusado de chefe da conjura, apesar de não haver, como explicita Corvo, qualquer prova contra ele.
Ao considerar Gomes Freire como «inimigo natural»da Regência do país, Beresford deixa entender que esta só pode subsistir rodeada de mediocridade, isto é, as pessoas com qualidades morais, intelectuais e sociais constituem uma ameaça para o governo.



Corte no Brasil


Em Portugal, a vitória do Liberalismo foi precedida de vário episódios de revolta, nomeadamente a conspiração de 1817, que vitimou vários portugueses inconformados com a politica vigente.A ausência do monarco D. João VI, instalado na corte no Brasil, deixara metropole à á mercê do governo constituído por uma junta de governadores, entre os quais se contava o Marechal Wiliam Beresford, representante do poder militar britânico. O pais vivia uma situação de declínio económico, social e comercial e sentia-se abandonado pelo seu rei. Na metrópole, o governo estava confiado a uma junta de governadores, dependente das instruções recebidas do rio. mas ausência dos órgãos centrais do poder enfraquecia a autoridade de governo metropolitano. A verdadeira força no meio desta desagregação geral do estado era a que o exercito representava, e o comando do exercito estava nas maos dos oficiais ingleses. Terminada a guerra, os ingleses mantinham o pais em estado de mobilizaçao ed conservavam nas fileiras perto de cem mil homens. Segundo um relatório que a junta de governo enviou a D. João VI, em 1820, o exército absorvia três quartas partes (insto é, 75%) das receitas públicas. As estruturas políticas da monarquia, amenizadas pela ausência dos seus órgãos, eram assim substituídas por uma forte organização militar que funcionava como o verdadeiro instrumento da submissão politica do País.

As relações entre o poder civil e o poder militar eram más, e dentro do exército eram também más as relações entre oficiais portugueses e oficiais ingleses, porque os primeiros se queixavam de ser preteridos nas promoções pelos segundos. Em 1817, o comandante inglês Beresford, foi informado da existência de uma conspiração entre oficiais portugueses. Desse facto deu conhecimento ao Governo, que reprimiu a tentativa com uma severidade que não era habitual: todos os implicados foram enforcados, entre eles o General Gomes Freire de Andrade, figura de grande prestígio entre os meios militares e simpatizante com as ideias novas. As estranhas condições da instrução do processo e alguns outros indícios fazem supor que o próprio Governo estaria implicado na conspiração.

 

 

Conspiração de 1817


Presente na obra Felizmente há Luar de Luís Sttau Monteiro.

A história deste livro divide-se em 2 tempos: tempo de escrita ano de 1961,e tempo de história séc. XIX (1817), tempo em que se começa a notar a imposição do regime liberal, defende a liberdade individual mediante o exemplo dos direitos e da lei. Figura central desta conspiração é General Gomes Freire de Andrade.

No âmbito da disciplina Língua Portuguesa, tivemos de pesquisar sobre a conspiração de 1817 e liberalismo e absolutismo.

General Gomes Freire era como a figura de referência para fortalecer o movimento. A Viscondessa de Juromenha tornou-se a principal figura no ajuste da conspiração, ao contrário do que os liberais pretendiam. Muitos dos conjurados eram apenas agentes provocadores que mantinham informada D.Maria da Luz, a Viscondessa de Juromenha, e também, o Marechal Beresford (que era um militar britânico e depois passou a marechal-general do exército Português).O Marechal Beresford estava de partida para o Rio de Janeiro, pois D.João VI tinha acabado de ser aclamado Rei, onde ia tentar conseguir apoio do Rei na sua luta contra regência. Enquanto o Marechal viajava, deixou agentes incumbidos de agirem, e fazerem uma lista exaustiva dos conjuntos e tipos de adesão e das suas intenções ao movimento. Beresford convocou algumas personalidades de confiança, entre eles o Visconde de Santarém, a quem foram apresentados os documentos que tinham sido associados à conspiração. A decisão foi de apresentar a documentação à regência, o que ocorreu em 23de Maio de 1817, a regência imediatamente se assegurou da posição do exército e do apoio do general Paula Leite, encarregue do governo das armas da corte e província da Estremadura, emitiu ordens de prisão contra Gomes Freire e diversos oficiais civis.

Gomes Freire de Andrade, ao notar a movimentação das tropas, os ruídos das armas e das patas dos cavalos, pensou tratar-se da revolução em marcha, fardou-se, esmaltou o peito e esperou, a sua porta foi arrombada, a casa invadida pela tropa e com uma ordem de prisão.

Alguns dos conjurados passaram a delatores e como o maior alvo era Gomes Freire de Andrade, as testemunhas serviram para o tornar o grande culpado. Nunca se soube ao certo o real envolvimento do Gomes Freire na conspiração, como também não se conhecem exatamente os objetivos dos conspirados, se é que havia um objetivo comum. Gomes Freire foi condenado à morte com baraço e pregão e executado em S.Julião da Barra, a 18 de Outubro de 1817, os restantes 11 foram executados no Campo de Santana, hoje Campo dos Mártires da Pátria. A lentidão do suplicio, e o ter-se prolongado pela noite, deu origem à frase Felizmente há luar de Miguel Pereira Forjaz.

Liberalismo e absolutismo

Liberalista – D Pedro IV

Absolutistas – D Miguel

A presença de D. João VI – 13 anos no Brasil , permitiu a evolução do mesmo a todos os níveis.

A partir de 1808 – O Brasil passou a fazer comercio livremente com outros países.

Deixando de ser obrigado a comprar e vender a Portugal todos os produtos.

A burguesia brasileira viu os lucros aumentar ao contrário da portuguesa.

Portugal exige ao Brasil que voltasse à sua antiga situação. Fazer comercio só com Portugal.

E que D. Pedro regressasse ao reino D. Pedro não concorda | 1822 declara independência ao Brasil.

D. Pedro I do Brasil

Portugal perdeu assim o território que mais lucro dava ao reino.

Quando D. João VI morre , D. Pedro foi aclamada Rei de Portugal como este era Imperador do Brasil se este subisse ao trono Portugal e Brasil voltariam a ficar unidos o que não agradava a ambos os países.

D. Pedro decide abdicar do trono de Portugal a favor da filha D. Maria da Gloria que na data tinha sete anos de idade.

D. Miguel estava exila dado na Áustria por ter organizado.

Por ter organizado revoltas contra a monarquia liberal.

D.Pedro decidiu que D.Miguel poderia voltar a Portugal se cassasse com a sobrinha Infanta D.Maria e fosse apologista das ideias liberais.

1831

D. Pedro abdicou do trono brasileiro a favor do seu filho D.Pedro e veio para a Europa.

Nos açores organizou um exército liberal que em 1832 desembarcou no Porto.

A cidade foi ocupada pelos liberais e cercada pelo exército de D. Miguel

Porto resistiu cerca de um ano aos absolutistas graças ao apoio da população.

Uma parte do exército liberal saiu do Porto e dirigiu¬-se para o Algarve.

Daqui marcha para Lisboa tendo ocupado a capital do reino em 1833

O exército miguelista que cercava o Porto, partiu para Lisboa.

Ocorreram entanto em 1834 as batalhas de Almoster e Asseiceira ganhos pelos liberais.

D. Miguel assinou então a paz na convenção de evo amonte em 1834