quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Fernando Pessoa - Biografia


Fernando Pessoa foi um poeta filósofo e escritor português.  Publicou 4 obras em vida, e três dessas obras estão na língua inglesa. Fernando Pessoa traduziu algumas das suas obras da língua inglesa para a portuguesa e, da portuguesa para a inglesa.

Enquanto poeta, escreveu sob múltiplas personalidades – heterónimos como Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro –, sendo estes últimos objeto da maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra.

Nasceu em Lisboa a 13 de Junho de 1888 e faleceu 30 de Novembro de 1935 ainda em Lisboa. Viajam no navio Funchal até à Madeira e depois no paquete Inglês Hawarden Castle até ao Cabo da Boa Esperança. Em 1899 ingressa no Liceu de Durban, onde permanecerá durante três anos. No ano de 1901, é aprovado com distinção no primeiro exame Cape School High Examination e escreve os primeiros poemas em inglês. Em 1901 parte com a família para Portugal, de férias.

Regressa definitivamente à capital portuguesa, sozinho, em 1905. em 1906, matricula-se no Curso Superior de Letras (atual Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), no qual abandonou antes de completar o primeiro ano. Interessa-se pela obra de Cesário Verde e pelos sermões do Padre António Vieira.

Pessoa estreou se como crítico literário, provocando polémicas junto à intelectualidade portuguesa. Em 1913 escreveu "O Marinheiro". Em 1914, devido à sua capacidade de "outrar se", criou mais heterónimos (Alberto Caeiro (criado em 1914 e "morto" em 1915), Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares, etc.), assinando as suas obras de acordo com a personalidade de cada heterónimo.

Em 1918, Pessoa publicou poemas em inglês, resenhados com destaque no "Times". Em 1921 fundou a editora Olisipo, onde publicou poemas em inglês.

Em 1927 passou a colaborar com a Revista "Presença". Em 1934 publicou "Mensagem".

Em 29 de Novembro de 1935, foi internado com o diagnóstico de cólica hepática. A sua última frase, escrita em inglês, dizia: "I know not what tomorrow will bring".

 



"Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus."
 
Fernando Pessoa/Alberto Caeiro; Poemas Inconjuntos; escrito entre 1913-15; publicado em Atena nº 5 de Fevereiro de 1925.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Os Lusíadas - Reflexões do Poeta

Luís de Camões, n´Os Lusíadas, não consegue calar a voz crítica da sua consciência nem a sua emoção. Então, interrompendo o tom épico, como os bons clássicos de Roma e Grécia, umas vezes, a sua palavra ganha uma feição didáctica, moral e severamente crítica; outras vezes, expressa o lamento e o queixume de quem sente amargamente a ingratidão, ou os desconcertos do mundo.
        Na primeira reflexão d’Os Lusíadas sobre a insegurança da vida, Camões reage à traição protagonizada por Baco, lamentando-se da personalidade escondida dos seres humanos. Estabelece um paralelismo entre os perigos encontrados no mar e em terra, verificando que em nenhum dos ambientes há segurança absoluta. Na sequência disto, reflecte sobre a posição do ser humano face à natureza, já que na sua fragilidade e insegurança é capaz de atravessar mares e conquistar povos, ultrapassando com sucesso os diferentes obstáculos.
        A reflexão sobre a dignidade das Artes e das Letras é um episódio marcadamente Humanista. Isto é observável noutras partes da obra pela demonstração da vitória do Homem sobre a Natureza e a vontade de saber e descobrir. No que se refere a este trecho específico, o Humanismo revela-se pela presença da componente pedagógica oferecida pelas “artes e letras” e pelo modelo de perfeição humana que é a capacidade de conjugar os feitos guerreiros com o conhecimento literário, objectivo conseguido pelos chefes da antiguidade (como seja o exemplo citado de César).
        Camões alegra-se ao verificar que na Antiguidade sempre houve personagens protagonistas de feitos heroicos e simultaneamente autores capazes de os cantar condignamente. Em oposição, lamenta-se do facto de, apesar de os portugueses terem inúmeros feitos passíveis de serem louvados, não ser prezada a poesia, tornando-o num povo ignorante. Na sequência disto, caso continue a não haver em Portugal uma aposta nas artes, nunca ninguém exaltará os feitos dos portugueses. No entanto, Camões vai continuar a escrever a sua obra, por amor e gosto à arte de louvar, mesmo sabendo de antemão que o mais provável é não ver devidamente reconhecidos os seus versos.
        No final do canto VI, Camões apresenta-nos o seu conceito de nobreza, recorrendo para isso à oposição com o modelo tradicional. Desta forma, o poeta nega a nobreza como título herdado, manifestada por grandes luxos e ociosidade. Propõe então, como verdadeiro modelo de nobreza, aquele que advém dos próprios feitos, enfrentando dificuldades e ultrapassando-as com sucesso. Só assim poderá superiorizar-se aos restantes homens e ser dignamente considerado herói. O estatuto será adquirido ao ver os seus feitos reconhecidos por outros e, mesmo contra a sua vontade, ver-se-á distinguido dos restantes.
        Na reflexão que faz no início do canto VII, Camões faz um elogio ao espírito de cruzada e critica os que não seguem o exemplo português. Isto porque, para Camões, a guerra sem pretensões religiosas não faz sentido, visto ser apenas movida pela ambição da conquista de território. Assim, recorre ao exemplo do Luteranismo alemão para criticar a oposição ao Papa e às guerras que não seguem os ideais camonianos. Dirige-se depois aos ingleses, que deixam que os Muçulmanos tenham sob controlo a cidade de Jerusalém e preocupa-se apenas em criar a sua nova forma de religião (anglicanismo). Também os franceses, ao invés de combaterem os infiéis, aliaram-se aos turcos para combater outros cristãos. Nem os próprios italianos passam impunes, ao ser-lhes criticada a corrupção. Para incitar à conquista de povos não-cristãos, visto esta causa não ser suficiente, Camões lembra as riquezas da Ásia Menor e África, incitando desta forma a expansão. Termina elogiando os portugueses, que se expandiram por todo o mundotendo como fim primário a divulgação da fé.
        Na segunda reflexão que faz no canto VII, Camões critica os opressores e exploradores do povo. Começa por uma retrospectiva da sua própria vida, com etapas como a pobreza, a prisão, o naufrágio, fazendo destas um balanço negativo. No entanto, para ele a maior desilusão continua a ser o facto de não vera sua obra devidamente reconhecida. Alerta portanto para o facto de os escritores vindouros se poderem também sentir desta forma, desencorajando a escrita e a exaltação dos heróis. Segue depois para uma crítica mais abrangente, afirmando que não louvará quem se aproxima do Rei tendo como intentos únicos a fama e o proveito próprio. Não louvará também aqueles que se inserem nos meios reais de forma a conseguirem poder para explorar o povo. Termina invejando aqueles que em serviço do Rei foram reconhecidos, já que ele se sente cansado pela forma como é tratado pelos compatriotas.
        No final do canto VIII, Camões centra a sua reflexão nos efeitos perniciosos do ouro, constatando que a avidez em que vive o ser humano conduz muitas vezes a acções irreflectidas, independentemente da posição social. Lista todos os efeitos do metal precioso, desde traições à corrupção da ciência, ao afirmar que o ouro pode fazer com que os juízes deem demasiada importância a uma obra pelo facto de terem sido remunerados para tal.

        No final da obra, Camões lamenta-se do facto de não estar a ser devidamente reconhecido, já que a sociedade se rege somente pelo dinheiro, decidindo por isso pôr-lhe termo. Não deixa no entanto de louvar os portugueses e todos os perigos por eles ultrapassados (definição camoniana de nobreza). Elogiando os heróis passados, alerta os homens do presente que a vida nobre não passa pelo ouro, cobiça e ambição. Exorta D. Sebastião a valorizar devidamente aqueles que pelos seus feitos se puderem considerar nobres. Correspondendo à visão aristotélica da epopeia, remata com novas proposição e dedicatória e incita o rei a feitos dignos de serem cantados.

A Ilha dos Amores

Depois de todas as etapas vencidas, os portugueses merecem descanso, que decorrerá na Ilha dos Amores, local concebido pelo épico, simbolizando a recompensa pela heroicidade, a satisfação dos sentidos e a harmonia no Universo. É aqui que os portugueses são mitificados e se tornam Deuses, como se verifica quando as Ninfas se entregam aos navegadores, alcançando a glória. 


A Ilha dos Amores: exaltação dos navegadores como herói, capazes de ascensão à divinização. Recompensa pela heroicidade, pelas conquista/ Satisfação dos sentidos/ Posse de conhecimento/ Harmonia do universo.

Fogo de Santelmo e Tromba Marítima

Ambos os episódios são naturalistas e descrevem “cousas do mar” que os sábios não entendem mas que Vasco da Gama e a sua tripulação presenciaram. Camões faz uma breve referência a este “lume vivo“ salientado que os olhos dos marinheiros não os enganavam pelo uso de um pleonasmo do verbo ver = “Vi, claramente visto, o lume vivo”.
Este fogo aparece na extremidade dos mastros e vergas dos navios em altura de tempestade, e que resulta de descargas eléctricas.
A tromba marítima é reflectida como um enorme tubo que aumentava em direcção ao céu, partia de um “vaporzinho”, adensava-se chupando a água das ondas para uma nuvem que se carregava para esvaziar uma violenta chuvada sobre o oceano.

É feita a descrição em pormenor da formação da tromba de água, e nas duas últimas estrofes, o poeta salienta que os marinheiros por experiência própria, têm mais capacidades de explicar estes fenómenos naturais, do que os sábios que o fazem por meio de obras escritas, teóricas.

Velho do Restelo

No momento da largada ergue-se a voz de um respeitável velho que sobressai de entre todas as que se tinham feito ouvir até então. Ela representa todos aqueles que se opunham à louca aventura da Índia e preferiam a guerra santa no Norte de África.
Se as falas das mães e das esposas representam a reacção emocional àquela aventura, o discurso do velho exprime uma posição racional, fruto de bom senso da experiência (“tais palavras tirou do experto peito”) e do sentido das vozes anónimas ligadas ao cultivo da terra, sobretudo no norte do país, defensoras de uma política de fixação oposta a uma política de expansão com adeptos mais a sul.
E assim, o Gama que representa este homem sempre insatisfeito e que está disposto a enfrentar os mais difíceis obstáculos e a suportar os mais duros sacrifícios para conseguir o seu objectivo, tinha perfeita consciência da lógica, da verdade e sensatez das palavras do Velho do Restelo, da condenação moral da empresa mas não lhe podia dar ouvidos porque levava dentro de si um incentivo maior e mais forte, um dever a cumprir imposto pelo rei e pela pátria e até um imperativo ético e psicológico.
No entanto, as palavras pessimistas do velho acabam por evidenciar o heroísmo daquele punhado de homens tanto maior quanto mais consciente. O Velho do Restelo fala como um poeta humanista que exprime desdém pelo “povo néscio” ou seja, o clássico horror ao vulgo.
Há portanto uma contradição entre o discurso pacifista do velho e a épica exaltação dos heróis e seus feitos de armas. A personagem seria um porta-voz da ideologia característica da formação humorística de Camões.

O Velho do Restelo é o próprio Camões erguendo-se acima do encadeamento histórico e medindo à luz os valores do humanismo. Ele é o humanista que torna a palavra, humanista para quem os acontecimentos que lhe servem de tema constituem apenas o material para um poema e que reserva constantemente a sua liberdade de juízo.

Despedida de Belém

CANTO IV, 83-85

Foi no dia 8  de Julho de 1497 que a armada portuguesa, capitaneada por Vasco da Gama, partiu  em procura do desconhecido. Uma enorme multidão concentrou-se na praia de Belém para assistir à partida dos marinheiros seus amigos ou familiares.
O tema deste  excerto lírico, é emotivo do ponto de vista sentimental, pois é revelada uma  enorme saudade por aqueles que vão “navegar” e por aqueles que ficam.
É  um episódio constituído por uma primeira parte, em que se descreve o local da  partida e o alvoroço geral dos últimos preparativos da viagem, estando as naus  já preparadas e os nautas na ermida de Nossa Senhora
de Belém orando.
Numa segunda  parte, em que Gama e os seus marinheiros passam por entre a multidão para chegar  aos batéis, num caminho desde o “santo  templo”, destacam-se as evocações de mães e esposas acerca da partida, criando um entristecimento na emotiva despedida do Restelo.
Finalmente,  na terceira parte, é referido o embarque em que, por determinação de Vasco da  Gama, não se fazem as despedidas habituais num sentido de menor  sofrimento.
Também se pode considerar a importância desta viagem para  Portugal, pois para além dos proveitos que poderia trazer ao reino, simbolizava,  acima de tudo, um perigo.

Sonho de D.Manuel I

D. Manuel I logo que assume o poder pretende dar continuidade aos desejos do seu antecessor, na conquista de novos mares e novas terras. Numa noite sonha com vários mundos, nações de muita gente, estranha e feras e vê dois homens que pareciam muito velhos. Estes apresentam-se como "os rios do Ganges e Indo". O sonho prenuncia os êxitos, a fama, o poder e a glória que se cobrirá por o Rei ter conseguido descobrir o Oriente.

Os navegantes e, em especial, o comandante Vasco da Gama, ultrapassam a sua individualidade ou a participação do herói colectivo (povo português).

São símbolo do heroísmo lusíada, do espírito de aventura e da capacidade de vivência cosmopolita.


Durante o sono, o Deus do sonho aparece-lhe (Morfeu).

                        Engrandecimento do herói:

Ø  Morfeu inicia a apresentação da profecia com o prenúncio positivo de um alto e celesto destino para D.Manuel I, quando se leva no céu, tocando a lua.

Ø  Profecia:
o   Vê vários mundos e muita gente estranha;
o   Vê duas fontes no Oriente.

As fontes simbolizam o nascimento de vida, logo o nascimento de um novo império.

Caracterização dos velhos:

o   Surgem com a cabeça coroada, simbolizando a importância que ambos assumem.

o   Na decoração da coroa denuncia-se a estranheza dos elementos: ramos e ervas desconhecidas.

Análise - Batalha de Aljubarrota


 
Tema e divisão em partes:

O texto, cujo tema é a descrição da batalha de Aljubarrota, pode dividir-se em três partes lógicas.

A primeira parte (28 e 29) constitui uma espécie de introdução, em que o poeta assinala o terrível efeito provocado, na natureza e nas pessoas, pelo espantoso sinal lançado pela trombeta castelhana para o começo da batalha.

A segunda parte - desenvolvimento (de 30 a 42) é a descrição propriamen­te dita da batalha (entrecortada por um comentário emotivo do poeta na es­trofe 33), em que se realça a acção de Nuno Álvares (30, 34 e 35), o movimento terrificamente barulhento e confuso da refrega (31), a referên­cia aos irmãos de Nuno Álvares que lutavam do lado dos castelhanos e res­pectivo comentário do poeta (32 e 33), a acção de D. João I, que, como chefe e rei, a todos entusiasmava não só com palavras, mas também com o exemplo (entre as setas dos inimigos corro e vou primeiro).

Finalmente, a terceira e última parte – conclusão (43-45) apresenta-nos a desmoraliza­ção e fuga desastrosa dos castelhanos e a vitória eufórica dos portugueses.

Primeira parte – Introdução (est. 28 e 29)


Síntese


A trombeta castelhana dá o sinal para a guerra e este ecoa por toda a Península Ibérica, desde o Cabo Finisterra ao Guadiana, desde o Douro ao Alentejo. As mães apertam os filhos contra os peitos. Há rostos sem cor e o terror é grande, muitas vezes maior do que o próprio perigo. Durante o combate as pessoas, com o furor de vencer, esquecem-se do perigo e da possibilidade de ficarem feridas ou mesmo de perderem a própria vida.

Análise estilística das estrofes 28 e 29:

O poeta realça logo o tremendo sinal de combate, dado pelos castelhanos, por meio dos adjectivos “horrendo”,“fero”, “ingente”, “temeroso”, “som terríbil”. Com o fim de realçar o efeito produzido por esse tremendo som da trombeta caste­lhana, há a personificação de seres da natureza física (o monte, os rios) que, eles próprios, tremeram frente a esse terrível sinal de guerra. Associada à personificação surge também a hipérbole: “o Guadiana atrás tornou as ondas de medroso; correu ao mar o Tejo duvidoso.”

Como símbolo do medo e terror deste som da guerra aparece a ternura das mães, aos peitos os filhinhos aper­tando. O efeito deste sinal de guerra é ainda realçado pelos rostos macilentos (quantos rostos ali se vêem sem cor). Para realçar este pavor que precedeu a própria batalha, o poeta afirma, a jeito de conclusão, que nos perigos grandes, o temor é maior muitas vezes que o perigo.


Segunda parte – Desenvolvimento (est. 30 a 42)

Síntese

A guerra começa. Uns são movidos pela defesa da sua própria terra e outros pelo desejo de vitória. Os inimigos são muito numerosos, mas os portugueses defendem-se com bravura. D. Nuno Álvares Pereira destaca-se na luta. D. Diogo e D. Pedro Pereira, irmãos de Nuno Álvares Pereira, estão a combater contra ele, “(caso feio e cruel)” – no entanto, não tão grave como combater contra o rei e a pátria.

No primeiro esquadrão há portugueses que renegaram a pátria e combatem contra seus irmãos. D. João I, sabendo que D. Nuno Álvares corria perigo, acudiu à linha da frente para apoiar os guerreiros com a sua presença e palavras de encorajamento e, com um único tiro, matou muitos adversários.

Depois desta situação, os portugueses mais entusiasmados lutam sem recearem perder a vida. Muitos são feridos, muitos morrem, mas a bandeira castelhana é derrubada aos pés da lusitana.

Com a queda da bandeira castelhana, a batalha tornou-se ainda mais cruel. Sem forças para combaterem, os castelhanos começam a fugir e o rei de Castela vê-se derrotado e impedido de atingir o seu propósito.

Análise estilística da estrofe 31:

Na estrofe 31 note-se a expressividade dos adjectivos: espesso ar (a salientar que a própria atmosfera se mostrava de ar carregado), estridentes farpões, pés duros, ardentes cavalos, duras armas; a expressividade dos verbos: tiros voavam, treme a terra; vales soam, espedaçam-se as lanças, tudo atroam, re­crescem os inimigos. Há também a inversão da ordem das palavras (hipérbato), ao gosto clássico. Mas o que mais impressiona nesta estrofe é a admirável har­monia imitativa (onomatopaica) que existe entre o seu corpo fónico e o baru­lho da batalha.

Em poucos textos da nossa literatura o significante terá tanta importância como nesta estrofe 31, para dar visualidade e impressionismo à mensagem.

Aqui as palavras valem quase tanto pelo seu corpo fónico (significante) como pelo seu significado, na construção da mensagem. Veja-se como o corpo fónico das palavras sublinha o seu significado nestes dois versos, em que as aliterações e a sucessão de sibilantes se aliam ao encavalgamento, para sugerirem a catadupa estilhaçante de lanças e armas nas sucessivas quedas:

Espedaçam-se as lanças, e as frequentes

Quedas co as duras armas tudo atroam.

Intenção e efeito da estrofe 33:

Esta intervenção emocional do poeta, apostrofando célebres traidores da pátria, serve para, a jeito de coro na tragédia, pôr em evidência e comentar o caso feio e cruel de dois irmãos de Nuno Álvares se encontrarem do lado dos castelhanos, lutando contra a sua pátria e contra seu irmão.

A descrição da batalha é um episódio essencialmente cavaleiresco, dominado do princípio ao fim pela bravura patriótica de Nuno Álvares. O facto de surgirem dois irmãos, como eles portugueses (esses renegados), lutando contra a pátria e contra o irmão, além de conferir maior dramatismo à descrição pelo que há de chocante em semelhante traição, vem realçar a figura impolutamente patriótica de Nuno Álvares.

A descrição da batalha de Aljubarrota é-nos dada pelo poeta sobretudo como um quadro exaltador de Nuno Álvares.

Terceira parte – Conclusão (est. 43 a 45)

Síntese

Os castelhanos fogem vencidos e encobrem a dor das mortes, a mágoa, a desonra, maldizendo e blasfemando de quem inventou a guerra ou atribuindo a culpa à sede de poder e à cobiça. D. João I passa alguns dias no campo de batalha para comemorar e agradecer a Deus a vitória com ofertas e romarias, mas D. Nuno Álvares Pereira, que só quer ser recordado pelos feitos bélicos, desloca-se para o Alentejo.

 

D. Nuno Álvares Cabral

D. Nuno Álvares Pereira também conhecido como o Santo Condestável, Beato Nuno de Santa Maria, hoje São Nuno de Santa Maria, ou simplesmente Nun' Álvares (Paço do Bonjardim ou Flor da Rosa[i], 24 de Junho de 13601 – Lisboa, 1 de Novembro de 14312 ) foi um nobre e guerreiro português do século XIV que desempenhou um papel fundamental na crise de 1383-1385, onde Portugal jogou a sua independência contra Castela. Nuno Álvares Pereira foi também 2.º Condestável de Portugal, 38.º Mordomo-Mor do Reino, 7.º conde de Barcelos, 3.º conde de Ourém e 2.º conde de Arraiolos.

Considerado como o maior guerreiro português de sempre e um génio militar. Comandou forças em número inferior ao inimigo e venceu todas as batalhas que travaram. É o patrono da infantaria portuguesa.

Camões, em sentido literal ou alegórico, explícito ou implícito, faz referência ao Condestável nada menos que 14 vezes em «Os Lusíadas», chamando-lhe o "forte Nuno" e logo no primeiro canto (12ª estrofe) é evocada a figura de São Nuno, ao dizer "por estes vos darei um Nuno fero, que fez ao Rei e ao Reino um tal serviço" e no canto oitavo, estrofe 32, 5.º verso: "Ditosa Pátria que tal filho teve".

Uma escultura sua encontra-se no Arco da Rua Augusta, na Praça do Comércio, em Lisboa, outra no castelo de Ourém e uma, equestre, no exterior do Mosteiro da Batalha. Tem também uma estátua em Flor da Rosa,3 um dos dois locais apontados como sua terra natal.

São Nuno foi canonizado pelo Papa Bento XVI, em 26 de abril de 2009,4 e sua festa é a 6 de Novembro 5.


O dia do seu nascimento é feriado no concelho da Sertã.


Batalha de Aljubarrota

Batalha de Aljubarrota decorreu no final da tarde de 14 de Agosto de 1385 entre tropas portuguesas com aliados ingleses, comandadas por D. João I de Portugal e o seu condestável D. Nuno Álvares Pereira, e o exército castelhano e seus aliados liderados por D. João I de Castela. A batalha deu-se no campo de São Jorge, pertencente à freguesia de Calvaria de Cima, concelho de Porto de Mós, nas imediações da vila de Aljubarrota, entre o referido concelho e Alcobaça .

O resultado foi uma derrota definitiva dos castelhanos, o fim da crise de 1383-1385 e a consolidação de D. João I, Mestre de Avis, como rei de Portugal, o primeiro da Dinastia de Avis. A aliança Luso-Britânica saiu reforçada desta batalha e seria selada um ano depois, com a assinatura do Tratado de Windsor e o casamento do rei D. João I com D. Filipa de Lencastre. Como agradecimento pela vitória na Batalha de Aljubarrota, D. João I mandou edificar o Mosteiro da Batalha. A paz com Castela só viria a estabelecer-se em 1411 com o Tratado de Ayllón, ratificado em 1423.


A Batalha de Aljubarrota foi uma das raras grandes batalhas campais da Idade Média entre dois exércitos régios e um dos acontecimentos mais decisivos da história de Portugal. Inovou a tática militar, permitindo que homens de armas apeados fossem capazes de vencer uma poderosa cavalaria. No campo diplomático, permitiu a aliança entre Portugal e a Inglaterra, que perdura até hoje. No aspeto político, resolveu a disputa que dividia o Reino de Portugal do Reino de Castela e Leão, permitindo a afirmação de Portugal como Reino Independente, abrindo caminho sob a Dinastia de Avis para uma das épocas mais marcantes da história de Portugal, a era dos Descobrimentos.




Batalha de S.Mamede

A Batalha é travada a 24 de junho de 1128 "in campo Sancte Mametis quod est prope castellum de Vimaranes". Desde 1112, ano da morte do seu esposo, D. Teresa detinha o governo do condado Portucalense tendo a seu lado fidalgos castelhanos, nomeadamente Fernão Peres de Trava, com quem, se pensa, que terá mantido uma relação marital. Já desde 1127 o infante Afonso Henriques mantinha discórdias importantes com sua mãe e tentou por este motivo apoderar-se do governo do Condado.
As tropas do infante e dos barões portucalenses enfrentaram as de Fernão Peres de Trava e dos seus partidários portugueses e fidalgos galegos no dia de S. João Batista do já referido ano de 1128. A vitória foi para D. Afonso Henriques. O cronista do mosteiro de Santa Cruz aproveitou a coincidência da data da batalha com a festa religiosa para exaltar o acontecimento, conseguindo colocá-lo ao nível das intervenções divinas. S. João Batista tinha sido o anunciador de Jesus Cristo pelo facto de a batalha se ter dado na data em que se venera esse santo e a vitória ter sorrido a D. Afonso Henriques. Tal facto é, para o cronista, prova de que o infante era, também ele, o anunciador do aparecimento de um novo reinado.


Efectivamente, esta batalha foi decisiva, pois com ela mudaram os detentores do poder no condado (expulsão de D. Teresa e do "seu conde") e mudaram ainda as relações das forças sociais para com o próprio poder. Os barões portucalenses, ao escolherem D. Afonso Henriques para seu chefe, recusavam-se a aceitar a política da alta nobreza galega e do arcebispo de Compostela; por esta via estavam a inviabilizar um reino que englobasse Portugal e a Galiza. Desencadearam uma corrente independentista capaz de subsistir por si só e capaz de resistir a todas as tentativas posteriores de reabsorção. A localização exata do campo de batalha é ainda pouco precisa; sabe-se, no entanto, que a refrega se deu, sem qualquer dúvida, perto de Guimarães.



Rei Dom Manuel I - O Venturoso

D.Manuel I

Foi rei da Segunda Dinastia e o décimo quarto Rei de Portugal. Filho de Dom Fernando, Duque de Viseu e de Dona Beatriz, que nasceu em Alcochete a 31 de Maio de 1469 e morreu em Lisboa a 13 de Dezembro de 1521 e está sepultado em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos e casou com Dona Isabel de Aragão e teve como descendentes legítimos: Dom Miguel, Dona Isabel, Dona Beatriz, Dom Luís, Dom Fernando, Dom Afonso, Dom Henrique, Dona Maria, Dom Duarte, Dom António, Dom Carlos.
Começou a governar em 1495 e terminou em 1521
Em circunstâncias normais, Dom Manuel não seria nunca rei de Portugal. Mas a sorte bafejou-o. O seu antecessor, Dom João II, não deixou descendentes directos, pois o seu único filho legítimo, Dom Afonso, morrera aos dezasseis anos, devido a uma queda de cavalo. O parente mais próximo eram precisamente Dom Manuel, neto paterno do rei Dom Duarte e primo e cunhado de Dom João II. Mas não foi apenas por herdar o trono que Dom Manuel foi cognominado de “O Venturoso”.
É que, à excepção dos casamentos (enviuvou duas vezes), tudo lhe correu bem na vida. Assim, durante o seu reinado, Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia; Pedro Álvares Cabral anunciou a descoberta oficial do Brasil; Afonso de Albuquerque dominou a Índia e assegurou para Portugal o monopólio do comércio das especiarias.

Cronologia dos Reis de Portugal

Primeira Dinastia – Afonsina

 1143 - 1185
D. Afonso Henriques "O Conquistador" (25 Julho 1111 Guimarães-6 Dezembro 1185 Coimbra).. Casou com D. Mafalda de Sabóia

1185 - 1211
D. Sancho I "O Povoador" (11 Novembro 1154 Coimbra-27 Março 1211 Coimbra). Casou com D. Dulce de Aragão

1211 - 1223
D. Afonso II "O Gordo" (23 Abril 1185 Coimbra-21 Março 1223 Alcobaça). Casou com D. Urraca

1223 - 1248
D. Sancho II "O Capelo" (8 Setembro 1202 Coimbra-4 Janeiro 1248 Toledo). Casou com D. Mécia Lopes de Hero

1248 - 1279
D. Afonso III "O Bolonhês" (5 Maio 1210 Coimbra-16 Fevereiro 1279 Alcobaça). Casou com D. Matilde de Bolonha e com D. Beatriz de Castela

1279 - 1325
D. Dinis I "O Lavrador" (9 Outubro 1261 Lisboa-7 Janeiro 1325 Odivelas).
Casou com D. Isabel de Aragão

1325 - 1357
D. Afonso IV "O Bravo" (8 Fevereiro 1291 Coimbra-28 Maio 1357 Lisboa). Casou com D. Beatriz de Molina e Castela

1357 - 1367
D. Pedro I "O Justiceiro" (18 Abril 1320 Coimbra-18 Janeiro 1367 Alcobaça). Casou com D. Constança Manuel e com D. Inês de Castro

1367 - 1383
D. Fernando I "O Formoso" (31 Outubro 1345-22 Outubro 1383 Santarém). Casou com D. Leonor de Telles

1383 - 1385

Interregno


Segunda Dinastia – Aviz

 1385 - 1433
D. João I "O de Boa Memória" (11 Abril 1357 Lisboa-14 Agosto 1433 Batalha). Casou com D. Filipa de Lancastre

1433 - 1438
D. Duarte I "O Eloquente" (31 Outubro 1391 Viseu-9 Setembro 1438 Batalha). Casou com D. Leonor de Aragão

1438 - 1481
D. Afonso V "O Africano" (15 Janeiro 1432 Sintra-28 Agosto 1481 Batalha). Casou com D. Isabel de Lancastre

1481 - 1495
D. João II "O Príncipe Perfeito" (3 Maio 1455 Lisboa-25 Outubro 1495 Batalha). Casou com D. Leonor de Viseu

1495 - 1521
D. Manuel I "O Venturoso" (31 Maio 1469 Alcochete-13 Dezembro 1521 Belém). Casou com D. Isabel de Castela, D. Maria de Castela e com D. Leonor

Mitologia n` Os Lusíadas

Camões, apesar de ser católico, utiliza a mitologia pagã por quatro razões:
a) obedece a uma regra dos poemas épicos (todas as epopeias a devem utilizar);  
b) assegura a unidade interna da acção da epopeia (colocando em oposição humanos e deuses); 
c) embeleza a intriga (de outra forma seria um mero relato da viagem); 
d) serve para glorificar o povo português, comparando-o aos deuses (valoriza os homens a quem Neptuno e Marte obedeceram).

·       Júpiter era o deus romano do dia, comumente identificado com o deus grego Zeus, era filho de Saturno e de Reia. À medida que Reia dava à luz, Saturno devorava todos os filhos varões. Júpiter e Juno nasceram do mesmo parto, e Reia, para salvar a vida do filho, apresentou-lhe a filha Juno e, em lugar de Júpiter, deu-lhe uma pedra embrulhada, que Saturno devorou imediatamente. Reia deu Júpiter a criar aos Coribantes, sacerdotes de Cibele, filha do Céu e da Terra, que o levaram para Creta, onde foi amamentado pela cabra Amalteia. Júpiter cresceu e, quando descobriu a sua origem, pediu a Saturno que o aceitasse como herdeiro. Saturno, sabendo então que Júpiter havia nascido para governar todo o Universo, procurou, por todos os meios, contrariá-lo, mas Júpiter expulsou-o do céu e apoderou-se do trono do pai, tornando-se senhor do Céu e da Terra.
Casou com a irmã Juno e fez a partilha do Universo com seus irmãos: reservou para si o céu, deu o império das águas a Neptuno e o império dos infernos a Plutão. Júpiter, como senhor absoluto, representa-se sentado sobre uma águia, com um raio na mão. N’ Os Lusíadas também é identificado como Tonante, porque era o deus do trovão.

·       Vénus era filha do Céu e da Terra. Também se diz que era filha do Mar e que Saturno preparou o seu nascimento, formando-a da espuma das águas. E há ainda quem afirme que era filha de Júpiter e da ninfa Dione, sua concubina. Conta-se que Vénus, logo após o seu nascimento, foi arrebatada para o céu, em grande pompa, pelas deusas Horas, que presidiam às estações, e todos os deuses a acharam tão formosa, que a designaram deusa do amor e cada um deles queria desposá-la. Foi Vulcano que a recebeu por mulher, por ter forjado os raios com que Júpiter combateu os Gigantes, que queriam apoderar-se do céu. Mas Vénus, não podendo suportar o marido pela sua grande fealdade, entregou-se à vida dissoluta e teve muitos amantes, entre os quais Marte, filho de Juno e deus da guerra, de quem teve Cupido. Vulcano, que a surpreendeu com Marte, cercou o lugar com uma rede invisível e convocou todos os deuses para que presenciassem o espectáculo.
Vénus também desposou Anquises, príncipe troiano, de quem teve Eneias, que, já homem, partiu com uma grande armada para a Itália, para aí fundar um novo império. Vénus presidia a todas as festas de prazer e divertimento, sempre acompanhada das três Graças. Representa-se geralmente com Cupido, seu filho, sobre um coche puxado por pombos ou por cisnes.

·       Marte era o deus romano da guerra, equivalente ao grego Ares. O povo romano considerava-se descendente daquele deus pelo facto de Rómulo ser filho de Réia Sílvia ou Ília, princesa de Alba Longa, e Marte. Filho de Juno e de Júpiter, era considerado o deus da guerra sangrenta, ao contrário de sua irmã Minerva, que representa a guerra justa e diplomática. Os dois irmãos tinham uma rixa, que acabou culminando no frente-a-frente de ambos, na frente das muralhas de Tróia, da qual Marte se saiu perdedor. Marte, apesar de bárbaro e cruel, tinha o amor da deusa Vénus, e com ela teve um filho, Cupido e uma filha mortal, Harmonia.

·       Cupido, também conhecido como Amor, era o deus equivalente em Roma ao deus grego Eros. Filho de Vénus, e de Marte, andava sempre com seu arco, pronto para disparar sobre o coração de homens e deuses. Teve um romance muito famoso com a princesa Psique , que era a deusa da alma. Identificado com Eros e também conhecido como Amor, o deus grego do amor, o deus romano Cupido encarnava a paixão e o amor em todas as suas manifestações. Segundo a mitologia romana, Cupido era filho de Vénus, (a deusa do amor) e de Marte (o deus da guerra). Logo que nasceu, Júpiter (pai dos deuses), sabedor das perturbações que iria provocar, tentou obrigar Vénus a se desfazer dele. Para protegê-lo, a mãe o escondeu num bosque, onde ele se alimentou com leite de animais selvagens. Cupido era geralmente representado como um menino alado que carregava um arco e um carcás com setas. Os ferimentos provocados pelas setas que atirava despertavam amor ou paixão em suas vítimas. Outras vezes representavam-no vestido com uma armadura semelhante à que usava Marte, (o deus da guerra), talvez para assim sugerir paralelos irónicos entre a guerra e o romance ou para simbolizar a invencibilidade do amor. Embora fosse algumas vezes apresentado como insensível e descuidado, Cupido era, em geral, tido como benéfico em razão da felicidade que concedia aos casais, mortais ou imortais. No pior dos casos, era considerado malicioso pelas combinações que fazia, situações em que agia orientado por Vénus.

·       Vulcano, deus do fogo, era filho de Júpiter e de Juno. Como era extremamente feio, Júpiter lançou-o para fora do céu; foi cair na Ilha de Lemnos, quebrou uma perna e ficou coxo. Desposou Vénus, que não o pôde suportar, por causa da sua fealdade e lhe foi muitas vezes infiel. Vulcano fabricava raios para Júpiter, que com eles ficou vitorioso na luta contra os Gigantes, que queriam apoderar-se do céu. Vulcano tinha as suas forjas nas ilhas de Lemnos e Líparo e ainda no interior do monte Etna, na Sicília, onde trabalhavam os Ciclopes, seus oficiais, que tinham um só olho a meio da testa. Vulcano representa-se geralmente acompanhado por Vénus, como figura central; às vezes acompanhado de Vénus, sendo ele a figura principal.

·       Baco era o filho do deus olímpico Zeus e da mortal Sémele. Deus do vinho, representava seu poder embriagador, suas influências benéficas e sociais. Promotor da civilização, legislador e amante da paz. Líber é seu nome latino e Dioniso é seu equivalente grego.

·       Juno, sempre preocupada e agastada contra as numerosas concubinas de Júpiter, seu marido, aconselhou Sémele, quando esta estava grávida, a pedir a Júpiter que se lhe mostrasse em todo o seu esplendor, ao que ele acedeu com dificuldade. A majestade do deus desencadeou fogo no palácio, e Sémele morreu nas chamas. Com receio de que Baco, que Sémele trazia no ventre, viesse também a morrer queimado, Júpiter recolheu-o numa coxa até ao tempo do seu nascimento. Foi então confiado secretamente a Ino, tia de Júpiter, que o criou com o auxílio das Horas e das ninfas. Quando chegou a homem, Baco conquistou as Índias e passou depois para o Egipto, onde ensinou a agricultura aos homens e deu início à plantação da vinha. Salvou-se sempre das perseguições contínuas de Juno e transformou-se em leão para devorar os Gigantes que ameaçavam Júpiter e o céu. Depois da vitória sobre os Gigantes ficou a ser o deus mais poderoso, a seguir a Júpiter. Baco representa-se, geralmente, sobre um coche puxado por tigres, linces ou panteras, às vezes com uma taça em uma das mãos e na outra um tirso, do qual se servia muitas vezes para fazer brotar fontes de vinho.

·       Em Roma, Diana (a Artemis grega) era a deusa da lua e da caça, filha de Júpiter e de Latona, e irmã mais velha de Apolo. Era muito ciosa de sua virgindade. Na mais famosa de suas aventuras, transformou em um cervo o caçador Acteão, que a viu nua durante o banho. Indiferente ao amor e caçadora infatigável, Diana era homenageada em templos rústicos nas florestas, onde os caçadores lhe ofereciam sacrifícios. Na mitologia romana, Diana era deusa dos animais selvagens e da caça, bem como dos animais domésticos. Filha de Júpiter e Latona, irmã gêmea de Apolo, obteve do pai permissão para não se casar e se manter sempre casta. Júpiter forneceu-lhe um séquito de sessenta oceânidas e vinte ninfas que, como ela, renunciaram ao casamento. Diana foi cedo identificada com a deusa grega Ártemis e depois absorveu a identificação de Ártemis com Selene (Lua) e Hécate (ou Trívia), de que derivou a caracterização triformis dea ("deusa de três formas"), usada às vezes na literatura latina. O mais famoso de seus santuários ficava no bosque junto ao lago Nemi, perto de Arícia.

·       Adamastor foi o mítico gigante baseado na mitologia greco-romana, referido por Luís de Camões n'Os Lusíadas, que representava as forças da natureza contra Vasco da Gama sob a forma de uma tempestade ameaçando a ruína daquele que tentasse dobrar o Cabo da Boa Esperança e penetrasse no Oceano Índico, os alegados domínios de Adamastor. O Adamastor tem, não só o papel de reforçar o positivismo da viagem, assim como o Velho também; e de enfatizar o "mais que humano feito", referido na proposição. Realçando a coragem do Herói, individual ou colectivo, que enfrenta, apesar do medo, desafios mais que do poder do Homem, porque o herói renega a sua emoção, segue a ordem de el-rei. Mais à frente o narrador mostra-nos como este grande gigante tem uma fraqueza, um amor impossível, mostrando que até o mais poderoso ser padece dessa doença benigna, que é o amor.

·       Neptuno era um deus romano do mar, inspirado na figura grega Posídon. Filho do deus Saturno e irmão de Júpiter e de Plutão. Originariamente era o deus das fontes e das correntes de água.

·       Na mitologia grega, as Nereidas eram as cinquenta filhas (ou cem, segundo outros relatos) de Nereu e de Dóris. Nereu compartilhava com elas as águas do mar Egeu.


·       Nereu, um deus marinho mais antigo que Neptuno, filho de Oceanus, era descrito como um velho pacato, justo, benévolo e sábio que representava a calma e serenidade do mar. As Nereidas eram veneradas como ninfas do mar, gentis e generosas, sempre prontas a ajudar os marinheiros em perigo. Por sua beleza, as Nereidas também costumavam dominar os corações dos homens.
São representadas com longos cabelos, entrelaçados com pérolas. Caminham sobre golfinhos ou cavalos-marinhos. Trazem à mão ora um tridente, ora uma coroa, ora um galho de coral. Algumas vezes representam-nas meio mulheres meio peixes. O único relato onde elas prejudicam os mortais, consta do mito de Andromeda. Segundo o mito, elas exigiram o sacrifício de Andromeda como punição pelo fato de Cassiopeia, mãe da jovem, ter alegado ser mais bela que as Nereidas.


·       Clio foi uma das nove musas da mitologia grega. Filha de Zeus e Mnemósine.
Era a musa da história e da criatividade, aquela que divulgava e celebrava realizações. É representada como uma jovem coroada de louros, trazendo na mão direita uma trombeta e, na esquerda, um livro intitulado "Thucydide". Outras representações suas apresentam-na segurando um rolo de pergaminho e uma pena, atributos que, às vezes, também acompanham Calíope. Clio é considerada a inventora da guitarra.
  

·       As Tágides são as ninfas do Tejo a quem Camões pede inspiração para compor a sua obra Os Lusíadas.